A hora e a vez dos fundos multimercados?

Depois da sangria, eles começam a virar o jogo. No primeiro semestre, o rendimento dos fundos multimercados bateu, na média, o dos investimentos que seguem a Selic – tipo fundo DI. Não é algo trivial com o juro básico da economia no maior nível em 19 anos. Mas tem explicação.

Fundos multimercados investem em um pouco de tudo. Mas pode contar com uma coisa: quase sempre haverá uma boa quantidade de ações e de títulos IPCA+ lá dentro.
No ano, o Ibovespa sobe 13%, contra 8% do CDI, a taxa que segue a Selic como um cachorrinho. Os títulos IPCA+2040, que são um bom benchmark para essa fauna de ativos, vão praticamente na mesma toada: 12%.
Tudo porque estamos num momento de conjunção astral: de mudança no ciclo dos juros. O BC já cantou a bola de que, salvo desastre, a Selic não sobe mais.

O mercado já vinha precificando esse movimento. Bom para o IPCA+ e para a bolsa, que sobem conforme cresce a esperança de juros mais baixos. E ótimo para os multimercados, que começam a sair das trevas. No primeiro semestre, eles renderam 1,6 ponto percentual acima do CDI. Bastante.

Hoje vamos falar sobre:

🌱 O prêmio da soja brasileira

💧 Iguá e a crise na concessão do Rio

💵 Musk e Altman querem renda básica universal

🌐 O Brasil é um parceiro comercial ruim?

HIGHLIGHTS

🏭 Braskem só vende ativos após definir controle

Na semana passada, vazou a notícia de que a Braskem negocia vender seus ativos nos EUA. Primeiro, ela negou. Depois, confirmou. Mas, segundo fontes ouvidas pelo InvestNews, o negócio só deve andar mesmo depois de a companhia resolver quem será seu novo controlador. Hoje, são dois candidatos: o empresário Nelson Tanure e a gestora IG4.

🐓 O efeito da gripe aviária na BRF

O lucro da BRF caiu 33% no 2º trimestre, para R$ 735 milhões. É que, a partir de 15 de maio, a gripe aviária paralisou exportações de frango para mais de 100 mercados — incluindo China, União Europeia e Chile. Foram cerca de 45 dias sem embarques e outros 45 com restrições parciais.

💰Nubank: alta de 42% no lucro

O Nubank reportou um lucro de US$ 637 milhões no 2º trimestre, acima das expectativas. Trata-se de uma alta de 42% na comparação anual. A taxa de inadimplência acima de 90 dias ficou em 6,6% – 0,1 ponto percentual acima de um ano atrás. Na madrugada desta sexta, as ações do banco subiam 10% no aftermarket de Nova York.

⛽ Briga no delivery

Começou uma disputa jurídica entre duas gigantes chinesas de delivery no Brasil. A Keeta, da Meituan, acusa a 99Food, da DiDi, de oferecer adiantamentos milionários para que restaurantes operem apenas com ela e, no máximo, mais uma plataforma — o que dificultaria a entrada da rival no país. A Keeta estreia no Brasil em novembro. Já a 99Food voltou a operar por aqui agora em agosto.

UMA IMAGEM

A indefinição sobre as tarifas entre EUA e China está valorizando a soja brasileira. Para garantir o produto daqui, o importador chinês paga não só a cotação da Bolsa de Chicago, a referência mundial, mas também um adicional que assegura a origem brasileira.

Em momentos de tensão, a China busca reduzir compras nos EUA e garantir mais soja made in Brazil. Aí essa demanda extra eleva o prêmio da commodity brasileira. Nesta semana, ele ultrapassou os US$ 69 por tonelada – bem acima dos US$ 37 de abril.
Agora, os preços estão perto dos picos de 2018 e 2019, época da primeira guerra comercial de Trump com a China.
Numa conversa com jornalistas, o CEO da SLC Agrícola, Aurélio Pavinato, contou que a empresa antecipou vendas nas últimas semanas para aproveitar os preços altos. Ele aposta que o fluxo de exportação seguirá favorável nos próximos meses.

Na foto: a Fazenda Perdizes, planta da SLC no Mato Grosso.

O MELHOR DO INVESTNEWS

Novo CEO da Iguá assume em meio à crise na concessão do Rio

Na noite de quarta, a companhia de saneamento Iguá anunciou a saída do CEO Roberto Barbuti. Acionistas minoritários e credores estavam insatisfeitos com seu estilo de gestão e pressionaram pela troca – como o InvestNews já havia antecipado na semana passada. Quem assume agora é René Silva, um executivo com passagem por outras concessionárias de infraestrutura, como a Hidrovias do Brasil.

Silva chega à Iguá num momento conturbado. A situação mais crítica é no Rio de Janeiro, onde a empresa cuida do tratamento de água e esgoto em áreas da Zona Oeste da capital, além de duas cidades do interior. Em 2021, ela pagou R$ 7,3 bilhões para assumir o serviço por 35 anos. Mas, menos de quatro anos depois, já corre o risco de perder a concessão.
A empresa foi multada em R$ 124 milhões pela Agência Reguladora de Saneamento do RJ por despejar esgoto sem tratamento no mar da Barra da Tijuca. Agora, o órgão recomenda a abertura de uma investigação que pode levar à perda do contrato, por supostos descumprimentos das regras. A Iguá alega que tem autorização para o despejo, já que a unidade de tratamento da região está em obras.

Elon Musk e Sam Altman defendem uma renda básica universal para quem perder o emprego para a IA. Faz sentido?

A partir dos anos 1960, alguns economistas começaram a propor um piso de renda para todos os cidadãos, como uma forma de combater a pobreza. Milton Friedman falava num "imposto de renda negativo" para quem ganhasse abaixo de um certo valor. Já nomes como James Tobin e Robert Theobald discutiam modelos de Renda Básica Universal – um pagamento fixo e incondicional. A ideia até foi testada na Finlândia, no Canadá e no Quênia, mas ninguém nunca adotou completamente.

A proposta agora ganha força no Vale do Silício. Líderes da indústria de IA, como Sam Altman e Elon Musk, defendem um salário universal bancado pelas próprias empresas de tecnologia. A lógica é que a IA está, ao mesmo tempo, aumentando os lucros dessas companhias e tornando empregos obsoletos. Por isso, parte dessa nova riqueza precisaria ser redistribuída.
Em 2016, Altman financiou um experimento no qual um grupo de americanos de baixa renda recebeu US$ 1 mil por mês durante três anos. Hoje, ele defende que, em vez de dinheiro, todos recebam "uma participação acionária em tudo o que a IA criar".

Ainda falta saber se essa é uma utopia ou uma distopia. Os críticos veem a ideia como politicamente inviável – e um álibi para empresas de tecnologia justificarem desemprego e desigualdade. Para David Autor, economista do MIT, líderes da IA apoiam a ideia porque "acham que vão deixar todo mundo desempregado e não têm uma ideia melhor sobre o que fazer a respeito".

Leia mais nesta reportagem do Wall Street Journal, em português.

UMA FRASE

❝

"O Brasil nos tratou muito mal como parceiros comerciais durante muitos anos. É um dos piores países no mundo por isso."

Donald Trump, o presidente dos Estados Unidos, em uma coletiva na Casa Branca. Não é verdade. A tarifa média efetiva sobre produtos americanos no Brasil é de 4,7% – próxima à praticada por outros países em desenvolvimento, como Índia, África do Sul, Argentina e Tailândia. E outra: na nossa balança com os EUA, eles é que costumam sair no azul – em 2024, tiveram superávit de US$ 253 milhões no comércio com o Brasil.

VALE PARAR PARA LER

🌬️ De vento em popa

Em menos de 10 anos, a Auren passou de um braço de autogeração de energia do grupo Votorantim para 3ª maior geradora do país. Agora, ela entra na reta final dessa transformação: em setembro, concluirá a integração dos sistemas da antiga AES Brasil, forte em eólica, e a reestruturação da dívida monstruosa que herdou na compra. Anunciado em maio de 2024, o negócio mais que dobrou a capacidade instalada da Auren.

É isso. Boa sexta-feira e bom final de semana!

Curadoria e textos: Camila Barros
Edição: Alexandre Versignassi
Design: João Brito

Recebeu a newsletter de alguém?

Assine aqui