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 | Mark Zuckerberg (Meta), Jeff Bezos (Amazon), Sundar Pichai (Google) e Elon Musk (X e Tesla) presentes na cerimônia de posse de Donald Trump | Julia Demaree Nikhinson/via REUTERS |
| Trump e dependência: por que o Brasil pagou R$ 9 bi às Big Tech em 1 ano? | |  | Helton Simões Gomes |
| Em um só ano, os governos estaduais, municipais e o federal gastaram R$ 9,3 bilhões com produtos e serviços fornecidos pelas grandes empresas americanas, as chamadas Big Tech, aponta levantamento de pesquisadores da USP, UnB e FGV. Para eles, ligados ao Grupo de Estudos em Tecnologias e Inovação na Gestão Pública da EACH-USP, o montante bilionário desmonta a tese de que o Brasil carece de recurso para investir em tecnologia e ainda indica como as políticas públicas brasileiras dependem de companhias como Microsoft, Oracle e Google. Para Ergon Cugler, pesquisador da FGV e um dos autores do estudo, os números levantados mostram ainda a dimensão de uma motivação lateral para a sobretaxa de 50% anunciadas pelo governo norte-americano para produtos brasileiros: proteger os interesses, sobretudo os financeiros, das Big Tech por aqui |
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 | Lucy Nicholson/Reuters |
| Os pesquisadores passaram um pente fino por diversas fontes de compras públicas, como Portal Nacional de Contratações Públicas, Contratos.gov.br (ComprasNet), Painel de Preços e Catálogo de Soluções de TIC com Condições Padronizadas. Descobriram que: - De julho de 2024 a jun de 2025, as entidades públicas brasileiras gastaram gastaram R$ 9.295.329.648,01 em compras de produtos de tecnologia, sendo que...
- ... A administração federal foi a que mais gastou (R$ 4.478.732.296,86), seguida dos governos estaduais R$ 3.512.952.014,05) e dos municipais R$ 1.303.645.337,10). Só que...
- ... A compilação das contratações nos últimos 12 meses é apenas uma foto de um filme maior captado pelos pesquisadores. Essa primeira imagem, ainda que estática, mostra uma guinada de gastos, mas o escrutínio mais amplo, que considerou compras desde 2014, traz outros achados, pois...
- ... Ao vasculhar 19.655 contratos únicos, processos de compra e licitações, o grupo descobriu que as compras somaram R$ 23 bilhões. Os dados mostram que...
- ... Os serviços mais contratados são computação em nuvem, licenciamento de software e sistemas de segurança. Por outro lado...
- ... As principais fornecedoras foram Microsoft, Oracle, Google e Red Hat. Cugler faz uma ponderação, já que...
- ... Os dados apresentados são nominais, não foram corrigidos pela inflação e compreendem os contratos assinados diretamente com essas empresas ou com companhias intermediárias. Significa que...
- ... O valor total é maior. Bem maior.
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Além de colocar em números o tamanho do interesse financeiro dessas empresas junto ao poder público do Brasil, os dados compilados pelos pesquisadores permitem um mergulho na parafernália tecnológica que permite ao poder público oferecer serviços à população. Quando a gente fala nuvem, a gente está falando de um galpão que está nos Estados Unidos. E grande parte dos contratos são pra armazenar os nossos dados. Se a gente tem os dados do SUS armazenados em outro país, se cai a rede elétrica, se rompe o cabo ou se dá qualquer problema geopolítico, como é o que a gente tá passando hoje, a gente fica refém sem saber se vai prestar ou não a política pública, se vai ter a viabilidade de acessar aqueles dados. Não é de todo mal usar software, pelo contrário. Não é uma questão de tecnofobia. Mas o problema técnico objetivo é quanto das nossas políticas públicas são mediadas por tecnologias de terceiros. Ergon Cugler, pesquisador da FGV Reduzir a dependência estranheira, diz o pesquisador, exigiria incentivar data centers locais —a Univeridade Federal do Paraná opera de forma autônoma com infraestrutura própria há décadas— e promover o uso de software livre —o Brasil já foi expoente nessa área e o governo federal recorre a plataformas desenvolvidas com ferramentas "open source", como o Brasil Participativo. |
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 | Os números que a gente apresenta evidenciam que não é falta de dinheiro. É necessária vontade política. A quantidade de dinheiro que a gente paga em licença de software e aluguel de data center, por exemplo, é muito mais do que suficiente para poder desenvolver tecnologia nacional | | Ergon Cugler | Pesquisador da FGV |
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 | Donald Trump e Mark Zuckerberg durante encontro na Casa Branca em 2019 | Joiyce N. Boghosian/Divulgação/Casa Branca |
| Se Donald Trump anunciou que os EUA aplicariam tarifas adicionais aos produtos brasileiros por ver uma perseguição política ao ex-presidente Jair Bolsonaro e um aperto no tratamento dado às empresas americanas de tecnologia, o levantamento dos pesquisadores de USP, UnB e FGV joga luzes sobre uma motivação bem concreta, diz Cugler. A cifra bilionária calculada pelo grupo tangibiliza quanto as empresas perderiam se as discussões sobre regulação de plataformas no país transbordarem para o campo dos negócios. Isso considerando um contexto de logo prazo, que tem no horizonte a recente decisão do Supremo Tribunal Federal a respeito da possibilidade das plataformas serem responsabilizadas por conteúdo de terceiros e de outras propostas como o PL 2338, que estipula regras para a inteligência artificial e é discutivo na Câmara dos Deputados. Já no curto prazo, com o governo Lula acenando com uma possível reciprocidade, o prejuízo poderia ocorrer já a partir de agosto, quando as tarifas norte-americanas começam a subir. "Se o governo aplica essa postura de reciprocidade e incorpora [na retaliação aos EUA] também os contratos relacionados a essas big tech, com certeza significa uma perda financeira significativa para elas", diz o pesquisador. |
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 | Divulgação |
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