Saber a hora de investir é um ponto importante para quem decide aplicar seu dinheiro. Saber a hora de colocar um ponto final nesse investimento, no entanto, é tão ou mais importante. Isso porque a decisão de se desfazer de um ativo pode afetar o desempenho de uma carteira de investimentos. Como está seu bolso? Antes de analisar os fundamentos da empresa ou o cenário econômico, é essencial avaliar a própria situação financeira. "A necessidade de liquidez vem em primeiro lugar, pois pode ser mais urgente", diz Maurício Takahashi, professor de Ciências Econômicas do Mackenzie Alphaville. Em momentos de aperto, segurar um ativo com boas perspectivas futuras pode não ser viável. Nesses casos, a prioridade deve ser reequilibrar as finanças pessoais. Só depois é que se deve avaliar os fundamentos do ativo e, por fim, o ambiente macroeconômico. A venda de um ativo não deve ser encarada como um fracasso, mas como parte da estratégia. "Investir é uma jornada de aprendizado constante. E vender, muitas vezes, é tão importante quanto comprar", declara. A chave está no equilíbrio entre disciplina, análise técnica e inteligência emocional. Saber vender é, acima de tudo, saber decidir — e isso requer preparo, informação e autoconhecimento. Evite tomar decisões impulsivas Evite se apegar a investimentos. Takahashi alerta que, em muitos casos, investidores mantêm ativos por tempo demais por apego emocional, mesmo quando os sinais de deterioração desse ativo já são evidentes. "O apego a um ativo pode fazer você ignorar riscos ou oportunidades de ganhos melhores", afirma. Evitar vieses emocionais é essencial. Segundo Ricardo Rocha, professor de Finanças do Insper, é um erro comum vender em queda por pânico. "A venda depois de uma queda pode até ser uma decisão correta, se eu já atingi meu objetivo ou tenho algum estudo que mostra que o preço vai piorar. Mas o que eu não posso é me apegar ao ativo ou fazer o chamado efeito manada", afirma. Uma forma de driblar os vieses é ter um ponto de partida e um ponto de chegada com para seu investimento. "É essencial que o investidor estabeleça previamente critérios objetivos de entrada e saída do mercado, de modo que eventuais mudanças nas posições estejam alinhadas a esses parâmetros, e não guiadas por emoções", diz o professor de Finanças Leandro Maciel, da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da Universidade de São Paulo (FEA-USP). Atenção ao prazo de investimentosMomento muda para investimentos de curto e longo prazo. Há uma diferença significativa de comportamento diante dos investimentos de curto e longo prazos. "Nos investimentos de curto prazo, a venda costuma ocorrer quando o objetivo é atingido ou diante de uma necessidade inesperada de liquidez. Já nos investimentos de longo prazo, a venda tende a ocorrer em função de mudanças relevantes nos fundamentos do ativo, nas condições macroeconômicas ou ainda quando surgem oportunidades mais atrativas no mercado", afirma Maciel. A diferença entre investir no curto e no longo prazos também muda a forma como o investidor deve pensar na venda. No longo prazo, o foco é a análise dos fundamentos e o potencial de crescimento, evitando compras caras ou vendas precipitadas. Já no curto prazo, o investidor pode ser mais reativo a flutuações de mercado, focando em rentabilidade imediata e volatilidade. A carteira tem que corresponder ao seu horizonte para alcançar o objetivo. "Quer comprar uma casa? É médio ou longo prazo. Fazer uma pós? Curto prazo", explica Rocha. A decisão deve levar em conta o horizonte de investimento e a estratégia da carteira. "Se estou investindo na renda fixa de olho no longo prazo , não interessa muito a conjuntura. Eu vou ter sempre títulos indexados à inflação, que é o maior risco a ser mitigado", explica o professor do Insper. Já nas ações, é importante observar o comportamento dos grandes investidores. É o caso dos fundos de investimento. "Se esses investidores institucionais estão vendendo de forma significativa, isso pode indicar que a visão do mercado sobre a empresa piorou", afirma Takahashi. Fique atento à marcação a mercadoOs títulos de renda fixa, como Tesouro Prefixado, Tesouro IPCA+ ou mesmo títulos privados, sofrem variações. Muitas vezes o investidor vê esses papéis oscilarem para baixo e entra em pânico ao achar que está perdendo dinheiro. Por isso é importante entender o que é marcação a mercado. É um mecanismo que ajusta o valor dos títulos de renda fixa diariamente com base nas taxas de juros. Isso significa que, mesmo que um título tenha uma rentabilidade contratada, ele pode aparecer com valor menor temporariamente - é o valor que ele teria se fosse vendido naquele momento, diz Rocha. A rentabilidade contratada com comprar o título será honrada no vencimento, se o papel for mantido até o fim. Um exemplo prático: os investidores que compraram Tesouro Prefixado em 2020, com juros baixos, viram o título se desvalorizar com a alta da taxa Selic nos anos seguintes. Quem vendeu no pânico teve prejuízo. Já quem entendeu o funcionamento da marcação a mercado e segurou até o vencimento, ou aproveitou a alta recente no preço dos papéis, teve retorno positivo. Existe mecanismo que protege contra perdas muito grandes na renda variável Takahashi recomenda o uso de ferramentas como o "stop loss". É uma ordem de venda pré-programada que limita perdas muito grandes, especialmente em estratégias de curto prazo como "swing trade" ou "day trade", que buscam o lucro em dias ou semanas ou no mesmo dia, respectivamente. Um exemplo prático do "stop loss": você compra uma ação de R$20, e não quer perder mais de R$2 por ação. Então, pode configurar uma ordem de "stop loss" em R$18. Se o preço cair até esse nível, a corretora executa a venda. É indicado entender o histórico de preços e posicionar de antemão os 'stop loss', se possível, antes do pregão. Isso ajuda a evitar decisões emocionais. Maurício Takahashi, professor de Ciências Econômicas do Mackenzie Alphaville |