|  | Nova função do iPhone vai atender ligações de números desconhecidos para afastar golpes | Divulgação/Apple |
| Robô da Apple vai atender ligações no iPhone para afastar bandidos e chatos | |  | Helton Simões Gomes |
| Todo brasileiro com uma linha de celular recebe algumas dezenas de ligações por dia. Os corajosos que as atendem ouvem de ofertas comerciais a tentativas criminosas de golpes —ou, na maioria das vezes, só escutam a linha muda. Raramente há um humano do outro lado, e, quando uma voz fala, o jeito automatizado logo entrega: é um robô puxando papo. Em breve, a Apple vai colocar nas mãos dos donos de iPhone algo para equilibrar a luta injusta: um robô. Ele não só atenderá as ligações. Também vai conversar com quem está telefonando e, antes mesmo de você dizer "alô", vai dizer se vale a pena atender a chamada ou é melhor recusar. O truque não é novo. Já funciona com algumas mudanças nos celulares Android. Mas algumas ferramentas tendem a ganhar mais tração quando chegam ao aparelho da Apple. E, se isso acontecer, em breve, as conversas telefônicas entre robôs serão mais comuns do que aquelas feitas entre pessoas, já que o Brasil vive uma epidemia de ligações automatizadas. São bilhões por mês. A coluna presenciou nesta semana uma demonstração da tecnologia em ação e conta abaixo como ela funciona —e qual o interesse da Apple com ela. |
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| Publicidade |  | | | Chamada de "Call Screening", a nova função estará presente no iOS 26, que chegará em setembro. Ela já está na primeira versão pública de testes do sistema operacional, liberada nesta quinta (24). Mas só em inglês. Quando a atualização sair para todo mundo, haverá suporte ao português. Funcionará assim: - Uma pessoa liga de um número desconhecido. O robô atende e pede para ela se identificar:
Olá, aqui é Sarah ligando do banco. Eu gostaria de falar com o David sobre detalhes importantes da conta bancária dele. Obrigado Chamador Eu vou ver se ele está disponível Robô - ... É só a partir daí que o celular toca de verdade. E o robô trabalhará em duas frentes: de um lado, fala com quem ligou; de outro, conta tudo o que ouvir ao dono do iPhone por meio de mensagens de texto mostradas na tela do iPhone. Na primeira delas...
- ... O robô dirá que o iPhone está colhendo detalhes da ligação. Logo depois do toque...
- ... Virá a segunda mensagem, com o nome de quem ligou e sobre qual assunto quer tratar. Assim:
Essa é uma ligação de Sara, que quer informações do seu banco - ... A partir daí, se o conteúdo for suspeito, é possível --e recomendável-- pedir mais informações. Na ligação, o que acontecerá é o seguinte:
Ele disse: 'mande mais informação'. Você pode deixar uma mensagem depois do bip Robô Oi, David. Por favor, transfira todo o seu dinheiro agora. Chamador - ... Pronto. O robô conta o que foi dito, e o dono do iPhone --se tiver juízo-- pode recusar a ligação sabendo que fugiu de um golpe sem ter de falar com o bandido.
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| |  | SDI Productions/iStock |
| Há duas espécies de ligações inconvenientes. As de curta duração são feitas de forma automatizada pelos robôs de centrais de telemarketing. Chamadas de "robocalls", duram menos de seis segundos e são disparadas aos montes. Se você atender, só ouvirá o silêncio, porque o propósito é checar se a linha continua ativa. A Anatel (Agência Nacional das Telecomunicações) começou a medi-las em 2022, quando várias ações foram lançadas para coibir a prática. Desde então, o volume caiu —já foram 17,9 milhões, pico atingido em março daquele ano; chegaram a 10,2 milhões em abril de 2025—, mas continuam correspondendo a mais de 60% do total de chamadas telefônicas no país. É, porém, o segundo tipo de chamadas que a nova função do iPhone deve combater. Com objetivo comercial, elas são feitas para oferecer produtos ou serviços. Só que criminosos já tomaram emprestada a estética dessas ligações. Com isso, fingem falar em nome de uma empresa —adotam inclusive os robôs chamadores. Tudo para arrancar dados pessoais que possam ser usados para acessar contas bancárias ou franquear algum benefício. É o golpe conhecido como "spoofing", que inclui até a adoção de outros DDDs para enganar desavisados. |
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| | Publicidade |  | | |  | Reprodução/Android Police |
| Diante do volume gigantesco de ligações irritantes, o "Call Screening" tem potencial de se tornar uma das novidades queridinhas do iOS e rivalizar com as traduções ao vivo feitas por inteligência artificial. Quem tem Android, no entanto, já sente esse gostinho pelo menos desde 2019. Modelos da Motorola e o Pixel, do Google, saem de fábrica com a novidade há anos. Nos aparelhos da Samsung, é a assistente pessoal Bixby que dá as caras para falar com quem está do outro lado da linha. Aqui no Brasil, há até um serviço público que faz algo parecido. Desenvolvido pela Anatel em parceria com a ABR Telecom, um consórcio de operadoras, o Origem Verificada identifica quem está ligando, mas recorre a outro princípio. Em vez de botar um robô para trabalhar, checa a assinatura digital da ligação para autenticar a legitimidade da chamada e garantir que se trata de uma empresa real e não de um golpe. Nome da companhia e motivo do contato, quando possível, são exibidos na tela. O "porém" aqui é que as interessadas precisam se cadastrar junto à ABR Telecom. Ainda que atrasada, a nova função dos iPhones não chega sozinha —já há como esconder apps sensíveis e, em breve, o gerenciador de senhas vai guardar um histórico para ajudar a não repetir credenciais e parar de facilitar a vida de cibercriminosos. Com o conjunto de ações, a Apple reforça a segurança diante de situações que ocorrem fora do aparelho (tentativas de golpes via ligações ou acessos não autorizados) ou por causa dele (roubos e furtos). O foco na segurança casa com o investimento da Apple na ampliação da privacidade de seus aparelhos. Aqui, temos uma estratégia dupla. Por um lado, serve para a dona do iPhone manter distância segura das outras big tech, notórias por conduzir negócios baseados no processamento de dados pessoais dos usuários. E, por outro lado, reforça a impressão que o ecossistema do iOS oferece mais vantagens diante dos rivais. Como não dá ponto sem nó, a Apple transforma esse último aspecto em argumento na hora de justificar taxas na App Store, pelo uso do NFC no iPhone e para liberar o Pix por aproximação em seus smartphones. |
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