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Você acorda em uma manhã qualquer e antes mesmo de abrir os olhos direito, acessa seu celular. Boas notícias: o mundo inteiro concorda com você. Fascinante! Finalmente acabaram as horas e mais horas de convencimento, os outros são ingênuos demais… ignorantes demais. Mas agora entenderam e foi provado por A + B que você sempre esteve certo. Você pensa naquele seu colega de trabalho que simplesmente nunca concordou com uma sílaba que saísse da sua boca e que insistia em postar informações falsas: “hoje o Marcelo vai ver!” Entra no ônibus com satisfação. Aquele sorrisinho sarcástico cheio de si estampado no rosto. Afinal, você avisou e os posts no seu Instagram não negam. “Eu sou objetivamente mais inteligente que todos eles”. Mas algo está errado… todo mundo parece estar com o mesmo gozo. Você estranha, mas não examina melhor nos poucos segundos que separam o embarque do momento em que a notificação do celular toca de novo. A sua e a de todos que estão ali. Só no Instagram você pode ser reconhecido pelo que realmente é: esperto e sagaz. Lembra do primeiro YouTuber que te avisou sobre isso num vídeo cujo título é: “eles não querem que você saiba disso”. Pronto, eles perderam. Você chega ao escritório. Olha o Marcelo. Ansioso, quer ver na cara dele o misto de vergonha, raiva e choque que só alguém que cometeu um erro tão ingênuo seria capaz de expressar. Ele está de costas, sentado na cadeira digitando freneticamente. Deve estar irritado, você pensa. Chegou a hora: “Marcelo, bom dia”, diz sem conseguir conter o deleite. Ele se vira… contente? A resposta logo vem: “bom dia, você viu no Instagram hoje? Eu sabia que você estava errado!” |
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O mundo à parte que nos é desenhado O assunto que quero introduzir com essa breve historinha é: onde vamos parar se não colocarmos limites nas redes sociais logo? Até porque, se como o protagonista da historinha acima, todos puderem criar sua realidade diante de um algoritmo que os endeusa, o que sobra da sociedade? A segunda vítima é a verdade A tragédia do Rio Grande do Sul fez milhares e milhares de vítimas, que perderam vidas, entes queridos, moradia e um sem número de outras coisas que eu seria incapaz de citar por aqui. Gostaria de destacar minha profunda solidariedade. Ou seja, a população foi a primeira vítima do caos no Estado. Então eu diria que a verdade foi a segunda, parafraseando a famosa frase dita e repetida ao longo da história. O número de fake news envolvendo o Rio Grande do Sul foi assustador (pelo menos para mim). A Quaest fez um levantamento consultando moradores de 120 municípios e concluiu que 31% do público disse ter recebido alguma notícia falsa sobre a catástrofe. Há quem diga que o número não é de fato alarmante e que as discussões sobre isso foram até maiores do que a ocorrência em si. Isso me lembra um conceito que aprendi na aula de Fundamentos de Marketing, na ESPM: o das ‘gavetinhas’ no cérebro. É basicamente o seguinte: toda marca que encontra uma ‘gaveta’ (leia-se: espaço vazio) na cabeça do consumidor tende a conquistar a lealdade dessa pessoa e provavelmente será a empresa do ramo mais conhecida pelo público por longos anos. Uma vez preenchido, é bem difícil tomar esse espaço. Veja o exemplo do Band-Aid, Cotonete, Nescau, Catupiry e assim por diante. Essas marcas inclusive se transformaram em uma metonímia para o produto que oferecem. O mesmo acontece com informações. Se o primeiro contato que você tem com um acontecimento é por meio de uma fake news, ela preenche o espaço vazio e nem sempre é possível tirá-la dali. Aqui explico como é difícil para nós nos desapegarmos das nossas verdades, inclusive em um sentido evolutivo. E a tendência é que isso se espalhe. Quem nunca contou uma notícia bombástica para alguém sem nem checar se era verdade? Você deve se lembrar dessas ‘bobeiras’ como Lady Gaga é interssexual, ou as mais perigosas como Sérgio Moro treinado pela CIA, a mamadeira de piroca ou que em universidade pública só tem maconheiro… O que eu quero dizer é: o número não é alarmante por si só, mas pelas consequências de médio e longo prazo que eles podem trazer. O mesmo acontece com os grandes acontecimentos históricos que temos presenciado nos últimos meses. A guerra em Gaza, Ucrânia, eleições nos Estados Unidos e assim por diante. Explico o papel das redes em cada um dos casos aqui e aqui. A disputa por narrativas é característico da história, mas agora existem outros agentes envolvidos nisso. Os influencers e nossas realidades tão particularesMais dados sobre as redes sociais em meio à tragédia no Rio Grande do Sul: influenciadores foram responsáveis por 10 vezes mais interações do que políticos e 7 vezes mais do que canais de imprensa. Essa informação é do portal “Essa tal de rede social”, que analisa debates nas redes sociais. O poder da influência de indivíduos “não institucionais” — entenda-se: sem necessário comprometimento com a verdade factual das coisas — pode ser uma ameaça. Até porque, dada a relação aparentemente horizontal que eles constroem com o público, o nível de confiança atribuída ao que eles falam é grande. Fora quando eles não ficam reconhecidos justamente por falar “o que os poderosos não querem que você saiba” — o que geralmente são fatos distorcidos. Eu discuto um pouco por aqui como esse poder do influencer é construído e como ele pode afetar a percepção de realidade do público. Também não dá para esquecer como os algoritmos funcionam: curvando a realidade virtual aos nosso bel-prazer. E se hoje as redes sociais são as praças públicas de debate, cada vez mais vai parecer que o céu tão próprio pintado para nós é o mesmo que o nosso vizinho enxerga, o que até poderia funcionar, se vivêssemos em bolhas unitárias. O que acontece quando o mundo real (chame de físico, factual ou do que quiser) entra em cena? Hannah Arendt previu essa minha pergunta e sintetiza a resposta que considero perfeita: “O resultado da substituição coerente e total da verdade pela mentira não é que as mentiras passam a ser aceitas como verdades, nem simplesmente que a verdade passa a ser difamada como mentira, mas a destruição do próprio sentido que usamos para nos orientar no mundo”. Onde vamos parar se os limites não forem colocados logo? O perigo de nossas ‘gavetas’ serem preenchidas com alguma informação errada é cada vez maior à medida que nos tornamos indistintos dos nossos celulares. No final das contas, atenção é poder — e nenhuma plataforma tem tanto poder hoje como as redes sociais. O problema é que não existe um limite concreto para isso hoje. Elas encontraram um guarda-roupa de Nárnia nos nossos cérebros. A moeda de troca é o conforto da razão. O Rio Grande do Sul e as guerras são um gostinho do que isso pode resultar. Percebendo o contexto talvez tarde demais, as autoridades do mundo inteiro discutem hoje como tomar as rédeas da situação. Explico mais sobre as polêmicas aqui. A questão é: até quando a distância entre Marcelo e seu ‘rival’ ficará grande demais? Eu sempre me pego imersa no meu próprio universo virtual e consecutivas vezes falo coisas como: “ué, mas todo mundo sabe isso”, ou “todo mundo acha aquilo”. E você, já se flagrou em uma situação assim? Responda para nós nas redes sociais ou neste email. Enquanto isso, o Seu Dinheiro está em todas as redes sociaisO remédio para tudo isso parece ser sempre manter uma âncora com informações isentas e que explorem vários lados da mesma moeda. Por isso, fica o convite para nos seguir no Instagram e YouTube. Aliás, acabamos de chegar aos 100 mil inscritos no YouTube, venha se juntar a nós por lá! E se você já acompanhava, agradeço por fazer parte dessa conquista! Bom domingo e até mais! |
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| | MAIS SOBRE A AUTORA Beatriz Azevedo É analista de mídias socias do Seu Dinheiro. Jornalista formada pela Universidade de São Paulo (USP). |
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