|  | Mate XT, celular da Huawei com três telas dobráveis | Reuters |
| Por que celulares chineses 'invadem' o Brasil, mas vendas não decolam | |  | Helton Simões Gomes |
| As fabricantes chinesas começaram a desembarcar no Brasil ou a anunciar produção local desde o fim do ano passado. Rapidamente, foram alçadas à condição de desafiantes da hegemonia de Samsung, Motorola e Apple —juntas da Xiaomi, a chinesa veterana em nossas terras, elas possuem quase 90% das vendas. Bastante evidente aos olhos dos consumidores, o movimento vem sendo classificado, com razão, como uma "invasão chinesa". Só que a estratégia derrapa feio em um aspecto: os ponteiros das vendas mal têm mexido, segundo avaliação para a coluna da IDC, uma das principais consultorias de tecnologia do mundo a qual as empresas recorrem para saber suas participações de mercado. Passados mais de seis meses desse movimento dos [fabricantes] chineses trazendo produção local e tudo o mais, a gente ainda não viu nenhuma grande mudança, nenhum grande impacto Reinaldo Sakis, diretor de pesquisa para a América Latina da IDC Para o pesquisador, são dois os problemas que as novas entrantes no mercado brasileiro ainda parecem estar longe de resolver. |
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| Publicidade |  | | |  | Iqoo 13, modelo da Jovi | Divulgação/Vivo |
| Oficialmente, são sete as fabricantes chinesas atuando no Brasil. Tirando a Xiaomi, presente no país há seis anos e que não integra a nova leva de chinesas, as outras estão chegando agora. São três as estratégias em curso: - Há aquelas que escolheram importar aparelhos da China. É o caso de Huawei, de volta ao mercado brasileiro após seis anos distante devido ao embargo econômico dos Estados Unidos, e Honor, que entabulou uma parceria com a DL Distribuidora, a empresa escolhida pela Xiaomi. Por outro lado...
- ... Há aquelas que se associaram a companhias locais para montar os aparelhos. É o que tem feito a Oppo, junto da Multi (ex-Multilaser), e a Infinix, aliada da Positivo. Além disso...
- ... Correm na terceira raia as chinesas fabricando por conta própria, ainda que com fábricas terceirizadas. Jovi e realme fazem isso, ambas em Manaus. A diferença entre elas é que...
- ... A Jovi, uma das líderes na China, recrutou executivos tarimbados no mercado nacional para azeitar sua operação. Em seu time, há gente saída da TIM, Samsung e Positivo. Só que...
- ... Apesar do esforço, as vendas ainda não começaram a fluir para essas empresas, comenta Sakis, da IDC. Até há uma mudança detectada, mas nada substancial: lojas de marketplaces do Mercado Livre e da Amazon têm passado a vender aparelhos da realme, em substituição aos da Xiaomi. Ainda que...
- ... Sakis não abra a flutuação das vendas, outras consultorias detectam o movimento. Segundo a Canalys...
- ... Entre janeiro e março, foram vendidos 9,5 milhões de smartphones no Brasil, alta de 3% sobre o mesmo período do ano passado. A guinada vai na contramão dos outros mercados latinos, que amargaram quedas. Ainda assim...
- ... Samsung (43%), Motorola (23%), Xiaomi (15%) e Apple (5%) foram responsáveis por quase nove a cada dez celulares que saíram das lojas.
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| | E por que a "invasão" não virou show de vendas? Qualquer fabricante chinês que entre tem a possibilidade de disputar os outros 10% [deixados por Samsung, Motorola, Xiaomi e Apple]. A gente vê muito alvoroço, mas efetivamente essa grande movimentação não mudou muito o market share. É um ponto que até falo com os próprios fabricantes: não importa, o mercado nacional é movido a preço e a marca. Reinaldo Sakis Vamos ao primeiro deles: marketing. É difícil você chegar com produto que que não é conhecido do usuário e conquistá-lo sem muito investimento em marca com marketing. Até o presente momento, há investimento em produção local, o que que deixa os produtos competitivos, mas a gente não viu grandes investimentos em marketing Reinaldo Sakis Com o lançamento do celular dobrável em três da Huawei ou a aguardada chegada da Vivo (que adotou aqui o nome de Jovi pra não ser confundida com a operadora de telecomunicação), as empresas até produziram alguns "momentos UAU". Isso despertou alguma atenção. Mas, na sequência, os consumidores se depararam com o preço não tão em conta, de modo geral. Os dois aparelhos da Huawei custavam entre R$ 23 mil (Mate X6) e R$ 33 mil (XT Ultimate Design). |
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|  | Em um primeiro momento, é preciso despertar o desejo do usuário: você traz o melhor celular que tem e cria esse desejo no usuário. Mas, no segundo momento, precisa trazer um portfólio maior, com produtos mais próximos do bolso do brasileiro para ganhar mais de espaço e conquistar o público mais rapidamente. Se ficar seis meses ou um ano com algo caro para só depois trazer um baratinho, você perde o momento | | Reinaldo Sakis | diretor de pesquisa para a América Latina da IDC |
| Publicidade |  | | |  | Santos acerta patrocínio com a Huawei, empresa de tecnologia e comunicação | Dilvulgação/Santos |
| Preço atrativo é ainda mais crucial, porque os celulares chineses possuem poucos diferenciais tecnológicos em relação aos aparelhos das marcas estabelecidas. As exceções são o já citado Mate XT, que dobra em três partes, e o HarmonyOS, novo sistema operacional da Huawei. Também por isso tornar a marca é tão importante. E essa é uma atividade em que uma rival já nada de braçada. A Samsung é há anos uma das maiores anunciantes do país. No entanto, não é como se as chinesas não soubessem como se aproximar do brasileiro. A Huawei já chegou a estampar a camisa do Santos em 2014, quando o time tinha Gabigol e Robinho no elenco. Talvez os dados de venda da primeira metade do ano mostrem outra realidade. Os da Canalys, por exemplo, saem no meio de agosto. A expectativa dos analistas na consultoria é que os chineses irão impulsionar o mercado de smartphones no Brasil ainda em 2025. Para isso, porém, precisarão convencer as pessoas a comprar seus aparelhos e abandonar a concorrência. |
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