Os primeiros meses do atual mandato de Donald Trump na Presidência dos Estados Unidos foram marcados pela parceria com Elon Musk - o bilionário fez vultosa doação para a campanha do político e chegou a integrar o respectivo governo, ao comandar um programa de gastos na máquina pública. A lua de mel acabou com a saída de Musk da Casa Branca, seguida de troca de acusações nas redes sociais entre o empresário, comandante da Tesla, e o presidente dos EUA. O conflito ganhou novo capítulo com o anúncio por Trump da nova lei orçamentária anual de seu governo, apelidada pelo mandatário como "Big, Beautiful Bill" (conta grande e linda, em tradução livre). Elon Musk disse inicialmente que a proposta era "insana e completamente destrutiva", além de partir para ataques pessoais. Trump aprovou a lei mesmo assim, e estima-se que possa gerar prejuízo bilionário à Tesla. É o que apontam relatórios da fabricante de veículos elétricos, da qual Musk é CEO. Conflito públicoPublicamente, Donald Trump não demonstra simpatia por carros elétricos e já disse isso publicamente, citando Musk. "Quando Elon veio à Casa Branca pedir ajuda para seus carros elétricos que não vão longe, para seus carros autônomos que batem e para seus foguetes que explodem, eu poderia ter dito 'ajoelhe-se' e ele teria obedecido" Donald Trump, por meio da rede Truth Social, em 2022 Ambos se alfinetavam por motivos diversos, mas tudo mudou no ano passado, quando o bilionário rompeu de vez com o partido Democrata e doou US$ 290 milhões para a campanha do atual presidente, que é do Partido Republicano. Trump calibrou o discurso, deu poder a Musk e até comprou um Tesla no início de 2025, antes de as discussões do orçamento federal norte-americano começarem. Entre vários ajustes polêmicos na administração dos Estados Unidos, Donald Trump cortou virtualmente todas as políticas de incentivo à energia limpa - cruciais para o negócio da Tesla. A mais famosa era o crédito federal de até US$ 7.500 (cerca de R$ 41,7 mil na conversão direta) na compra de veículos elétricos fabricados nos EUA. Outras incluíam programas de créditos de carbono que permitiam à Tesla receber dinheiro de montadoras que produziam carros poluentes e pouco eficientes. Bomba nas finançasComo a Tesla é pioneira na massificação dos carros elétricos, sempre arrecadou muito com os esquemas de créditos, tanto na América do Norte quanto no resto do mundo. De janeiro a abril, a marca declarou ter faturado US$ 595 milhões (R$ 3,3 bilhões) com tais políticas globalmente. Não fosse por isso, o lucro de US$ 409 milhões (R$ 2,3 bilhões) no período se tornaria prejuízo de US$ 186 milhões (R$ 1,03 bilhão). Além disso, Trump atacou outro segmento do qual a Tesla é pioneira: baterias e painéis solares. Daqui em diante, o mandatário anunciou que zerará qualquer incentivo possível a aquisição de tais equipamentos, por pessoas físicas ou empresas. Por fim, a montadora também está sofrendo com as tarifas impostas a outros países pelo presidente norte-americano, já que vários componentes dos veículos da Tesla montados nos Estados Unidos são importados, inclusive da China - onde a montadora californiana também tem fábrica, voltada para abastecer o mercado local. Nesse caso, também há impactos operacionais: segundo o site "Electrek", os Tesla vendidos no Canadá estão vindo da Alemanha, ao invés dos Estados Unidos, onde a tarifa de 25% vigora desde abril para produtos estadunidenses. A tarifação fez as vendas da Tesla no mercado canadense caírem 87% desde janeiro. "Tarifas, [fim do]o crédito de US$ 7.500 para o consumidor, [corte nas] isenções fiscais de manufatura, créditos de emissões e abatimentos para painéis solares. Devastador", disse um ex-executivo da Tesla ao "Financial Times". Com a briga indo além do setor automotivo, Elon Musk já anunciou que criará o seu próprio partido político, ainda que não possa concorrer à presidência dos EUA por ter nascido na África do Sul. Donald Trump chamou a ideia de "ridícula" e disse que o bilionário "sofreria as consequências" se apoiar algum candidato democrata. Dentre as ameaças, o presidente disse poderá cortar os contratos da empresa de foguetes espaciais SpaceX com o governo, que totalizam cerca de US$ 22 bilhões, além de dificultar os negócios da Starlink, companhia de internet via satélite. Ambas as empresas são controladas por Elon Musk. "Chega de lançamentos de foguetes, satélites ou produção de carros elétricos, e nosso país economizaria uma fortuna" Donald Trump, na rede Truth Social, em 1º de julho |