Causou profunda celeuma a volta, ainda que em uma edição especial, da Banheira do Gugu no Programa do Ratinho na última segunda-feira. Teve quem comemorasse, mas também houve um certo ranger de dentes. É a volta da TV raiz, da programação estilo 'toca y me voy'? Ou uma temível involução da sociedade? Existiu ao longo dos últimos anos uma pressão muito grande para varrer para debaixo dos tapetes o que outrora foi popular -muitas vezes chamado de maneira jocosa como "popularesco". Tamanho asco daquilo que bate profundo no coração do povo acabou afastando um pouco a TV aberta justamente do seu alvo. Formatos limpinhos, apresentadores com texto decorado e uma assepsia que sequer demandava uma busca por sabonetes na banheira midiática da moral e dos bons costumes. Hoje celebrado por marcas e normalizado por importantes setores do debate público, o BBB em seu início era colocado como um inimigo da ética. No começo dos anos 2000, em meio a excessos televisivos, fez barulho a campanha "Quem Financia A Baixaria É Contra A Cidadania", da CDHM (Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados). São movimentos naturais no pêndulo da história. Momentos de retração, momentos de expansão. E uma constante e salutar tensão criativa que impulsiona todo um mercado. Na busca pelo equilíbrio do que é vendável sob o ponto de vista publicitário junto com o que provoca algum tipo de emoção orgânica na audiência, vejo a TV aberta em um movimento importante de busca por conexão. Essa conexão pode vir por intermédio da contratação de grandes nomes, rostos facilmente reconhecíveis como a Globo fez recentemente com Marcos Mion e Eliana. É mais difícil hoje partir do zero e apresentar novos rostos para um público tão grande quanto o estabelecido por esses dois exemplos. Os tempos são outros e a competição com a internet é cruel. A Band fez o mesmo com Galvão, a Record com Cléber Machado e por aí vai. Mas quando não existe grana para nomes de peso ou formatos da moda, uma alternativa importante é revisitar a gaveta com as ideias que habitam o inconsciente popular há eras. Nesse sentido, o SBT é a emissora que parece estar mais ansiosa para fazer as pazes com o próprio passado, tentando reequilibrar essa base para construir um novo futuro. Chaves, Aqui Agora e Casos de Família estão na lista de novidades anunciadas ou prometidas nos últimos meses. Assim como nos anos 90 e 2000, nem sempre será possível acertar em cheio no alvo. Mas a tentativa já é válida. Um passo à frente e você já não está no mesmo lugar, cantava Chico Science. Nesse caso da banheira, é verdade que o passo foi para trás. Mas dada a repercussão, realmente houve uma mudança de lugar a partir da iniciativa. Agora é entender o que vão fazer com isso. Espero que continuem tentando. Voltamos a qualquer momento com novas informações. |