Se a Coca-Cola adotar açúcar de cana nos EUA, como quer Trump, terá de apelar para o Brasil

Você já viu. Trump disse na semana passada que tinha convencido a Coca-Cola a trocar o xarope de milho por açúcar de cana. A Coca não confirmou. Mas se toda a indústria americana de refrigerantes tiver de fazer isso, eles vão ter de dobrar as importações de açúcar.

Hoje, os EUA importam 3,5 milhões de toneladas. Se o xarope de milho for substituído, eles vão ter de comprar 4 milhões a mais.
O Brasil fornece quase um terço do açúcar que eles importam. Somos o maior produtor mundial, de longe. Exportamos 32 milhões de toneladas de açúcar por ano, no total.
O único produtor global comparável ao Brasil é a Índia. Mas o governo de lá restringe as exportações a 1 milhão de toneladas por ano – para evitar desabastecimento.

Ou seja: o Brasil não tem concorrentes à altura. Se os refrigerantes dos EUA trocarem o xarope de milho, então, haverá uma pressão enorme para um acordo setorial, que liberte o açúcar da tarifa de 50%.

Hoje vamos falar sobre:

♻️ Klabin paralisa fábrica de papel reciclado

💻 Por que não vale a pena taxar chips estrangeiros

🏥 O efeito Rede D'Or nas ações do Fleury

🌊 A maior hidrelétrica do mundo

HIGHLIGHTS

♻️ Klabin fecha fábrica

A Klabin paralisou sua fábrica de papel reciclado em Paulínia (SP), apurou o InvestNews. A conta não estava fechando: o custo das aparas – resíduos de papel usados como matéria-prima – subiu bem acima da inflação nos últimos anos. Já o preço do papel reciclado caiu, com a demanda fraca. Ainda assim, a empresa segue operando outras plantas de reciclados – com capacidade de 400 mil toneladas por ano.

🍽️ A poison pill do GPA

O GPA tem uma cláusula que obriga qualquer acionista que ultrapasse 25% do capital a fazer uma OPA – oferta para comprar as ações de todos os outros sócios. No dia 29, o conselho vai avaliar se derruba essa regra. A discussão acontece pouco depois de a família Coelho Diniz aumentar sua participação na companhia, para quase 18% – se aproximando da fatia do grupo francês Casino, que tem 22,5%.

💰 A maior emissão da Unipar

A Unipar levantou R$ 900 milhões na maior emissão de debêntures de sua história. A operação serviu para trocar dívidas caras por dívidas mais baratas – e de prazo mais longo. Antes, a empresa pagava o CDI + 0,98% ao ano, com prazo médio de 5 anos. Agora, o custo caiu para CDI +0,88%, com prazo estendido para 6 anos e 4 meses.

Por que taxar chips estrangeiros pode, sim, complicar a indústria americana

Em 2022, o governo Biden aprovou uma lei que destina US$ 52 bilhões para turbinar a indústria americana de chips. Desde então, gigantes como TSMC e Samsung vêm ampliando sua produção por lá. Mas erguer uma planta nova leva anos – e, por ora, quebrar o domínio da Ásia no setor ainda soa como ficção. Tipo: em 2022, os EUA respondiam por 10% da produção global de chips. Para 2032, a expectativa é que esse número suba para meros 14%.

Desde que voltou à Casa Branca, Trump defende um novo caminho para impulsionar a produção local: tarifas. Mas não é tão simples. Mesmo fabricado nos EUA, um chip costuma atravessar o Oceano Pacífico, rumo a Taiwan, Malásia ou Filipinas. Aí ele volta aos EUA como produto final – dentro de um celular, por exemplo.
E tem outro ponto: a importação americana de chips soltos nem é tão grande – coisa de US$ 45 bilhões no ano passado. Para barrar mesmo os chips estrangeiros, Trump terá de mirar nos eletrônicos prontos. Aí a conta sobe: só em celulares, os EUA importaram US$ 114 bilhões em 2024.

Leia mais nesta reportagem do Wall Street Journal, em português.

UM NÚMERO

14,8%

Foi quanto as ações do Fleury subiram ontem, depois da notícia de que o grupo hospitalar Rede D'Or estaria negociando a compra da rede de laboratórios. As duas empresas negaram que haja um acordo – mas não desmentiram a existência de conversas.

Para o mercado, o negócio faz sentido: a Rede D'Or quer unir hospitais e exames para controlar mais etapas do atendimento.
Já o Fleury teria pacientes chegando dos hospitais da Rede D'Or. Com mais volume, o laboratório de diagnósticos poderia negociar preços melhores com os planos de saúde.

UMA FRASE

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"O Brasil não vai adotar medidas de punição contra empresas ou cidadãos americanos. Não podemos pagar na mesma moeda algo que consideramos injusto."

Fernando Haddad, Ministro da Fazenda, em entrevista à Rádio CBN. Segundo ele, o governo dos EUA ainda não aceitou negociar o tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros. Enquanto isso, o Brasil avalia planos de contingência – como oferecer crédito aos setores mais afetados.

UM GRÁFICO

A Trump Media é dona da Truth Social, rede social do presidente americano. Ontem, ela anunciou a compra de US$ 2 bilhões em bitcoin – parte do plano de virar uma Bitcoin Treasury Company.

Empresas desse tipo funcionam assim: emitem dívida para comprar bitcoins e guardar em caixa – apostando que, no longo prazo, a alta da criptomoeda compensará os juros.
É o que a Méliuz tem feito no Brasil. A empresa nasceu como gestora de programas de cashback, mas vem acelerando a compra de bitcoin. Hoje, tem 596 unidades – o maior estoque entre as empresas da América Latina.
Em segundo lugar, vem o Mercado Livre, mas ele só compra para diversificar o caixa mesmo.

VALE PARAR PARA LER

🌊 A maior hidrelétrica do mundo

A China começou a erguer uma nova hidrelétrica – um colosso de US$ 170 bilhões. Serão 5 usinas conectadas, com capacidade de gerar o equivalente a 4 Itaipus – metade da energia que o Brasil consome em um ano. Segundo o Citi, o projeto deve acrescentar quase US$ 17 bilhões ao PIB chinês ao longo da década de obras.

É isso. Boa terça-feira!

Curadoria e textos: Camila Barros
Edição: Alexandre Versignassi
Design: João Brito

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