A mídia ligada à extrema-direita dos Estados Unidos tem pegado no pé do novo filme do Superman. Como o diretor James Gunn afirmou que o super-herói é um imigrante e isso serviria para importantes metáforas sobre o cenário geopolítico contemporâneo, os radicais ficaram ouriçados. Mas lamento informar, o filme não tem muita coisa de política, não. Tudo é tratado da maneira mais pueril e alienante possível. Pode até haver um suposto aceno ou outro a questões atuais, como o conflito na Faixa de Gaza, mas é tudo tão genérico e caricato que o telespectador precisará forçar muito nas correlações para ver alguma proposta de discussão realmente relevante. O grande mérito dessa nova encarnação do Superman é ser uma agradável e quase inofensiva experiência para crianças de todas as ideologias. Depois de anos da influência nefasta de Christopher Nolan na DC, James Gunn vira a página e devolve os fãs de super-heróis para o lugar de onde nunca deveriam ter saído: o jardim de infância. A amarração da trama consiste em deixar claro que o novo universo cinematográfico da editora compreende melhor seus personagens que o responsável anterior, o infame Zack Snyder. A relação do Super com os pais biológicos e os adotivos é o cerne da apresentação do herói e também da sua transformação ao longo da história. Um golaço. É um filme insuportavelmente bobo, e essa é a sua melhor qualidade. As coisas se resolvem apenas porque sim, a história não perde muito tempo explicando pormenores ou tentando amarrar as pontas. São cenas legais concatenadas de maneira simpática, com toda a inventividade e a maluquice que eram típicas dos gibis da Era de Prata. O resultado final deve frustrar youtubers e outros criadores de conteúdo especializados em arranjar sarna para se coçar. Simplesmente não há nada de polêmico, tampouco um final para ser explicado em vídeos de 3 horas com teorias escalafobéticas. É apenas uma aventura pueril para todas as idades, especialmente as mais baixas. Tanto que o grande destaque do filme é um simpático cãozinho muito estabanado e pouco obediente, que rende as melhores cenas e é o verdadeiro coração da história. Uma fofura. James Gunn já tinha provado que era o diretor número 1 dos pais de pet em Hollywood com Guardiões da Galáxia 3, e dá um passo além com o Krypto de Superman. Mas para quem já viu o filme e adoraria problematizar alguma coisa do ponto de vista político, ofereço aqui um debate. Em vez de considerá-lo progressista, na verdade achei o filme muito pouco simpático às culturas estrangeiras e até razoavelmente xenofóbico. No grande ponto de virada, é revelado que os pais kryptonianos do Superman enviaram o rapaz à Terra para dominar a humanidade e "construir um harém". Sutil, hein? E no final, ele é salvo dessa missão pela criação amorosa dos pais caipiras no mais puro American Way of Life. Não sou um especialista no assunto, mas parece uma premissa muito pouco "woke". Mas quem se importa? O cachorrinho é o maior barato. A atriz que faz a Lois Lane é magnética, a melhor interpretação da personagem no audiovisual. E o Jimmy Olsen conseguiu ser mais interessante do que irritante, uma raridade. A nova versão do Lex Luthor foi inspirado nos gibis mais idiotas, eu amei. E o sujeito que interpreta o Clark Kent/Superman é o primeiro ator bom no papel. Um programão para o fim de semana. Voltamos a qualquer momento com novas informações. |