A recente proposta do governo federal de cobrar 5% de Imposto de Renda sobre os investimentos em LCI (Letras de Crédito Imobiliário) e LCA (Letras de Crédito do Agronegócio) acendeu o debate sobre o futuro dessas aplicações, que historicamente são isentas. O que muda para os investidores? Esses títulos continuam interessantes? Quanto rende R$ 1.000 em um ano, comparado ao cenário anterior? Além do impacto no investidor, especialistas alertam para efeitos indiretos na economia, como aumento no custo do crédito para o setor imobiliário e agropecuário, podendo refletir em preços mais altos para o consumidor final. O que aconteceuMedidas devem compensar alta do IOF, mas falta aprovação. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), anunciou no domingo, 8, que vai enviar uma Medida Provisória com as novas medidas tributárias para apreciação do Legislativo. O acordo ainda deve ser referendado pelo presidente Lula. O que muda para os investidores? A cobrança de 5% de imposto sobre LCI e LCA tende a reduzir a vantagem competitiva desses investimentos frente a outros produtos tributados, como CDBs e títulos públicos. Para quem já tem LCI e LCA, o que muda? Na prática, a mudança não será imediata para quem já possui esses títulos. Segundo Marcos Praça, diretor de Análise da Zero Markets Brasil, a proposta prevê a manutenção da isenção para os títulos emitidos até o fim deste ano. "Ou seja, quem já comprou seus LCI e LCA não será afetado por essa cobrança repentina", afirma. Já para novos investidores o cenário é diferente. A introdução do imposto reduz a atratividade desses produtos, uma vez que eles passam a perder parte da rentabilidade que antes era totalmente livre de tributação. De acordo com Praça, a recomendação é avaliar cuidadosamente as condições de mercado, o perfil de risco e as alternativas disponíveis. Os investimentos perdem a atratividade? Depende. Conforme o planejador financeiro Matheus Motta, embora a cobrança de imposto diminua a rentabilidade dos títulos, é preciso avaliar o conjunto das características de qualquer investimento: rentabilidade, risco e liquidez. Com a medida, LCIs e LCAs terão menos rentabilidade. Para continuarem atraentes, cada investidor precisará analisar se o risco e a liquidez compensam essa queda. LCI e LCA são instrumentos que incentivam setores como o imobiliário e o agro, facilitando o crédito para construtoras e produtores rurais. Se o crédito fica mais caro, isso pode levar a aumento nos preços de imóveis e alimentos no futuro. Matheus Motta, planejador financeiro A mudança pode elevar o rendimento de LCIs e LCAs. Estes títulos passarão a competir com outros de renda fixa que já sofrem incidência do IR, como os CDBs (Certificados de Depósito Bancário) e títulos do Tesouro Direto. Antes, o principal atrativo deles era justamente a ausência dessa forma de tributação. Agora, terão de aumentar o rendimento. O que os especialistas recomendam, no entanto, é fazer as contas para ter certeza do que compensa mais na sua carteira de investimentos. Quanto rende R$ 1.000 em um ano? E quanto rendia antes?O rendimento exato depende da taxa negociada no mercado, que pode variar diariamente. Para efeito de comparação, considere um exemplo de cálculo: - Antes da cobrança, um LCI que rende 97% do CDI (que hoje está em torno de 14,75% ao ano) teria um rendimento líquido aproximado de: 97% x 14,75% = 14,31% ao ano (isento de IR). - Com a nova alíquota de 5%, o rendimento líquido cairia para: 97% x 14,75% x (1 - 0,05) = 13,59% ao ano. Assim, sobre um investimento inicial de R$ 1.000, o rendimento passaria de R$ 143,10 para R$ 135,90 em um ano, uma redução de cerca de R$ 7,20. A partir de que taxa vale a pena investir? Não há resposta única para essa pergunta, pois depende do perfil e das prioridades do investidor. Todo produto de investimento é composto por três características: rentabilidade, risco e liquidez. A partir da cobrança do imposto, o investidor deve ponderar se o menor rendimento ainda compensa frente ao risco e à liquidez oferecidos. Matheus Motta, planejador financeiro |