|  | Shaolei Ren, professor da Universidade de Riversidade, na Califórnia | Reprodução/TED |
| IA eleva risco de apagão, diz autor do 'gasto oculto da água' do ChatGPT | |  | Helton Simões Gomes |
| A tarefa executada pela inteligência artificial aqui no Brasil vai consumir água e energia do outro lado do mundo, onde quer que esteja instalado o data center responsável por armazenar a ferramenta usada por você. Ainda que não possuam tantos data centers, países como o Brasil não estarão livres das novas dinâmicas energéticas e pressões sobre uso da água impostas pelo boom da IA, diz à coluna o professor Shaolei Ren, da Universidade de Riverside, na Califórnia. Ele é um dos autores do estudo pioneiro em mensurar o impacto da IA sobre a água e que calculou o "custo hídrico" do ChatGPT. Para países com grande poder computacional, caso de EUA e China, o risco é outro: podem ver a eletricidade ficar mais cara e até sofrer apagões. E Ren tem um recado para o Brasil, que se apoia na abundância de energia renovável para impulsionar a instalação de data centers com incentivos fiscais: apostar apenas em recursos naturais é insuficiente para entrar nessa corrida. |
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| Publicidade |  | | | ARTE/UOL | | Ao lado de outros três pesquisadores, Shaolei Ren calculou quanta água consome uma IA, do treinamento à inferência —a hora em que respondem solicitações do público. Publicado em 2023 e atualizado em março deste ano, o estudo levantou informações a respeito do GPT-3, grande modelo de linguagem por trás do ChatGPT naquela época, e descobriu que: - Na fase de treinamento, o GPT-3 consumiu 5,4 milhões de litros. Só com resfriamento dentro do data center, foram 700 mil. E mais...
- ... A cada 10 ou 70 prompts, ele bebe meio litro de água, cálculo que varia conforme o data center em que o sistema está armazenado e as condições climáticas da região. Nos EUA, são 16 prompts em média por 500 mililitros. Só que...
- ... Os pesquisadores foram conservadores, pois avaliaram apenas prompts respondidos em texto --imagens e vídeos gastam muito mais água. Deixam claro ainda que outros modelos, como os da Meta, podem gastar até quatro vezes mais água por prompt.
O avanço da IA depende de arquiteturas de modelos cada vez mais complexas e de maior poder computacional. Isso aumenta a demanda por recursos, incluindo energia e água. Existe uma conexão entre energia e água, mas eu acho que a causa raiz está nos modelos de IA cada vez mais complexos -- a energia e a água são apenas consequências dessa complexidade Shaolei Ren - ... O impacto da IA já está pressionando o consumo de água e energia. Se, em 2023, a água gasta pelos data centers dos EUA era de 66 bilhões de litros, a estimativa é que chegue a 280 bilhões em 2028, de acordo com relatório produzido pelo Laboratório Nacional Lawrence Berkeley. Além disso...
- ... O Departamento de Energia dos EUA estima que a IA pode aumentar a participação dos data centers no consumo norte-americano de eletricidade de 4,4% para 12% até 2028. Será que vai faltar luz?
Um aumento rápido na demanda por eletricidade impulsionada pela IA pode sobrecarregar redes elétricas locais, especialmente em regiões que já enfrentam oferta limitada de energia, o que pode aumentar os custos para os consumidores ou elevar o risco de apagões. Embora a rede nacional geralmente consiga absorver essa demanda crescente, pontos de concentração -- como a Virgínia, onde há muitos data centers -- podem enfrentar preços mais altos de eletricidade ou atrasos em melhorias de infraestrutura, afetando indiretamente residências e pequenos negócios. Shaolei Ren |
| | | | ARTE/UOL | | Segundo estimativas da indústria aqui do Brasil, 60% dos processamentos de dados do país são feitos no exterior —boa parte deles na Virgínia citada por Ren, afinal, a região da cidade de Ashburn abriga o chamado "beco dos data centers". Se a capacidade instalada aqui no país é da ordem de 800 Megawatts, alguns dos projetos das Big Tec em solo norte-americano impressionam: - Amazon: 2,2 GW em Indiana
- Meta: 2 GW na Louisiana
- OpenAI: 1,2 GW no Texas
Juntos, EUA e China reúnem 90% dos data centers que armazenam as IAs usadas por outras companhias, segundo estudo recente da Oxford University. Se eles estão sujeitos ao impacto de concentrar tanto poder computacional, outros países não serão isentos das consequências. Os data centers de IA causam impacto direto nas infraestruturas desses países [EUA e China], mas não acho que as limitações de infraestrutura serão o principal fator que impedirá o desenvolvimento da IA nesses lugares. Por outro lado, países com menos infraestrutura de IA podem não carregar diretamente esse peso imediato no consumo de recursos, mas ainda assim podem sofrer indiretamente com mudanças nos mercados globais de energia, estresse hídrico transfronteiriço ou impactos climáticos causados pelas emissões de carbono dos data centers de IA Shaolei Ren |
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| | ARTE/UOL | | Publicidade |  | | Por ter matriz energética predominantemente limpa e renovável, o Brasil vem sendo apontado como possível destino de centrais de dados. Está nas gavetas do Ministério da Justiça uma Medida Provisória para impulsionar a instalação dessas estruturas ao desonerar impostos federais para construção e importação de equipamentos —na prática, é uma antecipação da reforma tributária, que passa a vigorar em 2033. Sem desconsiderar a boa posição do Brasil, o professor Ren vê com certo ceticismo a aposta única em recursos naturais. Isso certamente dá uma vantagem ao Brasil, mas há muitos outros fatores importantes que são ainda mais decisivos para o sucesso da IA, como dados, qualificação de profissionais, mercado, entre outros Shaolei Ren |
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|  | Divulgação |
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