Já faz algumas semanas que os bebês reborn estão monopolizando o debate público. Por conta de alguns vídeos que viralizam em uma frequência avassaladora, a sociedade está tem se mostrado deveras intrigada com o fenômeno. No último domingo, o atual movimento chegou no seu ápice ao virar pauta do Fantástico, em uma reportagem que tentava entender o que são aqueles bonecos de vinil e como vivem as responsáveis por eles. Tive a oportunidade de me embrenhar por esse assunto ao longo das últimas semanas. Tudo começou com uma entrevista com Nane Reborns, influenciadora que diz ter sido xingada de maluca em um shopping enquanto passeava com um dos seus filhos inanimados. Ela é popular por conta de vídeos em que mostra a rotina cuidando dos seus bebês reborn. Assim como Nane, diversas outras criadoras de conteúdo fazem sucesso e caem nas graças da comunidade de entusiastas desse tipo de produto. Os vídeos virais ajudam a fazer girar todo um ecossistema econômico de compra e venda das bonecas e também dos utensílios, além do trabalho das artistas que personalizam os kits originais. É uma cadeia intrincada e fascinante. Até onde pude compreender, dois pilares sustentam essa subcultura: o apreço pelos bebês reborn em si, que comovem uma miríade de fãs em torno das artistas responsáveis; e algo chamado roleplay -as historinhas lúdicas que estão fazendo essa comunidade furar a própria bolha. Como todo nicho que extravasa seus limites originais, as brincadeiras das mamães reborn com seus filhos que não existem causa certa estranheza. Como não há contexto prévio nos vídeos de parto reborn ou da moça que leva um boneco para ser tratado no hospital, muita gente acredita que aquelas mulheres vivem em uma negação da realidade. Mas não é bem isso! As criadoras de conteúdo reborn estão mais para atrizes amadoras, criando narrativas e repetindo sequências que viram na internet, como as trends de qualquer outro nicho. Na grande maioria das vezes, é apenas um hobby como qualquer outro -talvez um pouquinho mais pitoresco que alguns outros, vá lá. Mas não mais que colecionar cards de Magic The Gathering, acumular gibis em casa ou coisa parecida. Há cerca de um mês estive em um evento no Parque Ibirapuera organizado pela artista reborn Andreia Janaina. Foi lá que gravei meu documentário Bebês Reborn Não Choram, que vem angariando ótimas críticas da audiência. Foi uma experiência transcendental. A supracitada estranheza deu lugar a algo completamente diferente, como explico no filme. Passei a admirá-las! Como leitor de gibis e fã de realities horríveis, me vejo muito nelas. Sei o que é investir meu tempo em passatempos considerados à margem da sociedade. Mas não estamos todos apenas buscando nos entreter enquanto aguardamos a hora do oblívio? Os motivos que levaram cada uma delas até aquele encontro interessa menos do que o fato de que lá encontraram acolhimento e senso de pertencimento em torno de um assunto que compartilham e podem usufruí-lo com alegria. Uma pena que as reações na internet sejam sempre tão exacerbadas. Pelo desconhecimento, surge um preconceito muito grande que culmina em ofensas e ilações que estão tirando a sensação de segurança que elas tinham até antes dessa bolha explodir. Como cantava Humberto Gessinger, o mal nasce do medo da escuridão. A humanidade tem a tendência de temer aquilo que não consegue ver ou entender. E isso seria tão fácil de resolver hoje em dia. Não faltam ferramentas para iluminar esses cantos. As mamães de bebês reborn nos lembram do melhor e do pior uso que podemos fazer da internet. O lado positivo é a oportunidade de reunir uma comunidade cheia de gente com interesses em comum. O lado negativo é ver como a falta de contexto impulsiona o ódio pelo diferente -e o quanto isso pode ser danoso em tempos virais. Se tivermos mais curiosidade e menos julgamentos precipitados, podemos transformar o mundo em que vivemos. Que seja um mundo reborn! Voltamos a qualquer momento com novas informações. |