Belas, recatadas e do lar, as "tradwives" ganham espaço nas redes sociais ao vender o trabalho doméstico como fonte de glamour. O movimento esbarra em polêmicas, como a fonte da renda e acenos à ultradireita.
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Bárbara Blum
Escreve sobre gênero no Todas e apresenta o podcast Modo de Viver. Foi editora-assistente da Ilustrada
O que está por trás da onda tradwife?
O neologismo em inglês dá pistas do que as mulheres que se identificam como "tradwives" querem. Essas ditas esposas tradicionais usam as plataformas digitais como Instagram e TikTok para vender um estilo de vida em que mulheres abraçam o retorno às tarefas domésticas –é pouco falado o fato de ser um conteúdo que gera renda e que, muitas vezes, é patrocinado por marcas. Uma delas é a ex-bailarina Hannah Neeleman , que aglomera milhões de seguidores sob o vulgo ballerinafarm.
Além dessa contradição, muitas mulheres passam uma mensagem de conservadorismo político por meio desses perfis. Isso sem precisar usar as palavras "Donald Trump" uma só vez. Segundo especialistas, ao glamourizar a função de donas de casa, elas passam um recado claro: lugar de mulher é na cozinha e devemos retomar papéis de gênero tradicionais, em que elas cuidam do lar e dos (muitos) filhos e eles se encarregam do trabalho remunerado.
Algumas chegam a criticar o feminismo diretamente, dizendo que o movimento ignora que elas fazem o que fazem por vontade própria. Lembra um episódio de "Sex and the City" que Charlotte decide parar de trabalhar para se dedicar a engravidar e recebe julgamentos das amigas. Em resposta, ela solta uma das frases mais marcantes da série: "eu escolho a minha escolha".
O envelhecimento assombra muita gente –principalmente mulheres. Um texto nos dá uma perspectiva interessante: o que assustou essa autora não foi a velhice, mas se tornar avó.
Já virou meme para quem assiste à série "The White Lotus", em que cada temporada acompanha uma semana de férias de vários grupos cheios de drama, a fala "você viu meu lorazepam?", dita pela atriz Parker Posey no papel de Victoria, esposa de um milionário. Ela opera sob fortes calmantes e ansiolíticos, que podem ser viciantes.