![](https://image.mail1.seudinheiro.com/lib/fe8e137377610d7e71/m/4/be2ba1f6-8176-49d6-80e5-a76b6ca81b48.png) “O poder é mais do que a comunicação e a comunicação é mais do que o poder. Mas o poder depende do controle da comunicação, assim como o contrapoder depende do rompimento desse controle”. A frase do sociólogo espanhol Michel Castells ajuda a explicar por que os Estados Unidos ‘desbloquearam’ uma nova etapa na “guerra” contra a China. Depois de comprar briga por causa de alguns balões e, mais recentemente, admitir pela primeira vez a possibilidade de uma guerra nuclear contra o gigante asiático, a maior potência global montou um circo na Câmara do país para lutar contra o que eles enxergam como uma grave ameaça… o TikTok ! Na última quinta (23), os deputados americanos ouviram o Shou Zi Chew, diretor-executivo da ByteDance, empresa por trás do TikTok — a televisão da geração Z. O objetivo era apurar possíveis riscos do aplicativo chinês para a segurança nacional. Com mais de 150 milhões de usuários nos Estados Unidos, o TikTok corre risco de ser banido do país caso não aceite ser vendido para uma uma empresa de lá. Por outro lado, no Brasil a rede está firme e forte, nos siga por lá para receber conteúdos “raíz” sobre investimentos. Basta clicar aqui. Os norte-americanos evocam a ameaça de vazamento de dados para explicar a perseguição. O governo americano aponta a possibilidade de a China acessar dados de cidadãos americanos, já que o país possui leis que permitem que autoridades exijam secretamente dados de empresas e cidadãos chineses para operações de coleta de informações. Também estão preocupados que a China possa usar as recomendações de conteúdo do TikTok para desinformação. A ByteDance, por outro lado, negou que algo dessa natureza já tenha ocorrido. Durante o depoimento na Câmara, Chew disse entender que existam preocupações nesse sentido, mas deixou claro: "Deixe-me afirmar isso de forma inequívoca: a ByteDance não é um agente da China, nem de qualquer outro país". A empresa ainda se ofereceu para transferir todas as informações de cidadãos americanos para servidores dos EUA até o final deste ano. Mas, por trás das cortinas, existe outro motivo — além da segurança — que está deixando os governantes do país ensandecidos com o crescimento exponencial da rede entre os jovens: a perda significativa de poder geopolítico americano. O TikTok é uma representação disso. TikTok é só um dos símbolos do enfraquecimento dos EUA, isso os deixa apavorados A disputa entre China e Estados Unidos não se restringe aos artefatos bélicos de cada um, há um outro fator em jogo: o soft power (poder brando, em tradução livre), um conceito elaborado pelo autor e cientista político Joseph Nye. Trata-se da habilidade de jogar a opinião pública e as ações políticas ao redor do globo em favor de seus objetivos sem precisar usar a força. E o TikTok tem tudo a ver com isso. Afinal, estamos falando de uma plataforma criada na China que gera tendências e influencia diretamente no comportamento de seus usuários na vida real. É o algoritmo deles que define quais discursos serão virais entre os mais de 1 bilhão de usuários ativos da rede. O sistema deles que decide quem atinge milhões e quem cai no esquecimento. “No limite, trata-se de qual empresa irá definir os moldes que são calibrados para pautar a realidade e conduzi-la de acordo com os interesses das potências e do mercado”, explicam os pesquisadores Juliana R. Corrêa e Ergon Cugler em um artigo para o Le Monde Diplomatique Brasil. É o que preocupa os Estados Unidos, que vem perdendo o domínio geopolítico global para a China há alguns anos. Enquanto isso, as redes norte-americanas também sofrem com a perda de espaço para o aplicativo chinês, o que deixa Mark Zuckerberg, dono da Meta (ex-Facebook), doido de raiva. Falo mais sobre isso nesta matéria. Cabe ressaltar que uma série de redes sociais e serviços norte-americanos também são proibidos na China. Instagram, Twitter, Google e Facebook são alguns deles. Ou seja, o sentimento é recíproco. Não é só o TikTok: a China tem outras armas para a guerra cultural Nos últimos anos, a China tem feito um avanço significativo quando o assunto é a guerra cultural contra os EUA. Para Corrêa e Cugler, enquanto os Estados Unidos exercem o soft power por meio das grandes produções audiovisuais para difundir o “american way of life”, a fonte de poder brando da China é a dependência comercial de seus produtos. “É o caso do TikTok que, além de ditar tendências virais, também contribui para o mapeamento do mercado consumidor”, explicam. Mas, desde o início do século 21, a China está engajada em um programa massivo de expansão internacional de mídia e cultura. De acordo com o pesquisador de comunicação, Graham Murdock, o jornal em inglês China Daily é um exemplo. O veículo foi fundado em 1981 e até 2009 era publicado apenas em Pequim. Então se expandiu para uma edição diária na América do Norte e suplementos semanais na Europa, Asia e África. O principal jornal oficial, People’s Daily, e seus companheiros China Daily e Global Times, também lançaram edições internacionais ambiciosas e exploraram os recursos da internet para fazer suas notícias e visões disponíveis ao redor do mundo. |