O cenário é de cautela, com "tarifaço" nos Estados Unidos e juros altos no Brasil. É possível capturar rendimentos altos na renda fixa, mas a diversificação continua sendo importante e há oportunidades na Bolsa. Em meio à volatilidade, manter a clareza de objetivos se torna ainda mais importante. Renda fixa Juros em patamares elevados favorecem o rendimento de manter um título até o vencimento. Isso porque a taxa básica de juros, a Selic, foi mantida no maior patamar em quase 20 anos pelo Banco Central. Ou seja, alguns títulos prefixados podem oferecer retornos elevados se forem mantidos até o prazo final mesmo se a taxa cair. Vale diversificar entre prefixados, títulos atrelados ao IPCA e pós-fixados atrelados à Selic e CDI. Carregar um prefixado a 14% ou 15% ao ano é muito bom para um país que tem inflação média de 5,5% ao ano, diz Rodrigo Sgavioli, head de Alocação da XP. Sgavioli também cita os CDBs, títulos atrelados ao IPCA e pós-fixados. "Estou comprando prefixado, pós-fixado, a taxas muito atrativas", afirma Sgavioli. Quando a taxa de juros está alta, o rendimento dessas aplicações também aumenta. Bruna Caroline Kloppel, coordenadora de Fundos e Previdência da Central Ailos, uma rede de cooperativas de crédito, cita o exemplo do impacto direto da Selic sobre títulos como Tesouro Selic, CDBs e RDCs. "É como se elas acompanhassem o ritmo da taxa: quanto maior ela estiver, maior será o ganho do investidor", diz. É preciso avaliar custos operacionais dos investimentos. Kloppel ressalta que é preciso levar em conta não apenas a taxa de retorno bruto, mas também custos como taxa de custódia, corretagem e as diferenças nas alíquotas de tributação. Os títulos atrelados à inflação também entram no radar. Com a possibilidade de cortes nos juros a partir do ano que vem, esses investimentos ganham relevância no longo prazo. "Ter parte dos recursos investidos em produtos atrelados à inflação, como o Tesouro IPCA+, é uma forma inteligente de proteger o poder de compra no longo prazo", diz Kloppel. Para horizontes de curto prazo (até um ano), o cenário atual continua favorável. Títulos de renda fixa como RDCs, LCIs e mesmo fundos classificados como Renda Fixa DI são boas opções para quem quer investir por um período mais curto e ter boa rentabilidade. Um exemplo desse rendimento: R$ 10 mil aplicados em um RDC que paga 98% do CDI pode render cerca de R$ 1.168 líquidos em um ano, já descontado o Imposto de Renda, explica Kloppel. Renda variável O cenário de juros altos favorece a renda fixa, mas não anula o papel da Bolsa na carteira de longo prazo. "Com a Selic alta, nós acabamos tendo um viés de alocação mais conservador", explica Mauro Orefice, gestor da B.Side. Para um investidor que está, de fato, buscando uma carteira diversificada, tem tolerância e perfil de risco agressivo, a alocação de renda variável continua sendo fundamental. Mauro Orefice, gestor da B.Side Fatia de investimentos na Bolsa é menor, mas ainda necessária. Sgavioli explica que, nas carteiras de investimentos, "a parte alocada na Bolsa está menor do que o histórico". O foco está em empresas resilientes, com alto pagamento de dividendos e menor exposição a variáveis externas. "Estou focando em papel de alta qualidade, que seja menos exposto a questões tarifárias e de exportação", diz.Ações de empresas exportadoras e dolarizadas, ou seja, que têm grande parte de suas receitas em dólar, funcionam como proteção em momentos de crise, diz Orefice. Commodities, energia, petróleo e mineração, além de empresas de utilidade pública, são setores que atraem esses investimentos. "O setor de utilities pode ter quedas relevantes, mas é muito mais resiliente que vários outros. Os contratos são mais longos, geralmente até indexados à inflação", diz Sgavioli. Outro setor que pode se destacar com a perspectiva de queda de juros é a construção civil. Dentro desse setor, o segmento voltado à baixa renda tem destaque já que as vendas podem voltar a subir com os cortes de juros, de acordo com o head de Alocação da XP. Ansiedade é uma barreiraA ansiedade dos investidores pode ser um problema tão grande quanto a própria incerteza dos mercados. Diante de instabilidades políticas e o panorama internacional, o investidor precisa de cuidado redobrado na tomada de decisão dos investidores. Nem toda novidade no cenário leva a mudanças nos investimentos. "Se a gente reagisse a tudo que acontece hoje lá fora e no Brasil, a nossa vida ia ser ficar mudando portfólio a cada semana", diz Sgavioli. Esse comportamento impulsivo é acentuado pelas redes sociais e pelo fluxo contínuo de informações. "A luta vai ser a gente tentar cada vez mais distinguir o que é sinal do que é ruído. O que de fato impacta preços de ativos e deveria impactar a mudança de portfólios, e o que não vale a pena você sobrerreagir", diz Sgavioli. |