A renda variável ainda pode ser vantajosa para alguns investidores, mesmo que a renda fixa esteja nos holofotes. A taxa de juros básica, a Selic, em 15% ao ano tira o interesse dos investidores em renda variável, já que muitos investidores optam pelos ativos de renda fixa, que oferecem mais segurança e rentabilidade garantida. A renda variável vai bem além das ações, o destino mais conhecido da classe. Os fundos de investimento (ações, multimercado e imobiliários), os ETFs (Exchange Traded Funds, fundos de índice), as criptomoedas e as BDRs (Brazilian Depositary Receipts, recibos de ações de empresas estrangeiras negociadas na Bolsa brasileira), entre outros ativos, também figuram na renda variável. Investidores estão tirando dinheiro da renda variável. De acordo com a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), de janeiro a junho deste ano, a captação de renda fixa chegou a R$ 9,47 bilhões, ao mesmo tempo em que as ações tiveram queda de R$ 4,6 bilhões, assim como os fundos multimercados, que perderam R$ 8 bilhões. O patrimônio líquido por classe também mostra a goleada da renda fixa, que registrava, no mês passado, um montante de R$ 4,044 bilhões. Já as ações estavam com 608 milhões positivos, e os fundos multimercados, com R$ 1,4 bilhão. Apesar de fase difícil, vale a pena olhar com atenção para alguns ativos da Bolsa. Quais os riscos e cuidados Tem mais instabilidade. Como o próprio nome já diz, quem investe em renda variável tem que estar pronto para aguentar o tranco dos altos e baixos do mercado. O retorno financeiro, portanto, não é garantido. As oscilações do mercado, dentro e fora do Brasil, como uma mudança de governo, problemas econômicos internos e externos e conflitos geopolíticos mexem com o ambiente financeiro. Não é para todos. As ações são alvo dos investidores com perfil mais ousado. Por isso, é necessário fazer uma autoavaliação para descobrir o próprio perfil: se o investidor é mais arrojado e consegue aguentar as oscilações e perdas, em nome de um possível ganho mais robusto, pode ir em frente. As corretoras também exigem essa avaliação de perfil. A boa e velha recomendação de especialistas de diversificar a carteira está valendo. É uma forma de proteger o patrimônio do risco. Vale olhar quanto tempo o dinheiro ficará investido. "O tempo é precioso para o investidor. Quanto menor o tempo de resgate e o período necessário para o investimento, maior o risco associado", explica Bruno Oliveira, analista do Vida de Acionista. "Se, por exemplo, a pessoa quer colocar o dinheiro para usar daqui a um ano, ou daqui a seis meses, para fazer uma viagem, optar pela renda variável não é interessante. Isso porque ele vai estar exposto a um risco muito grande de curto prazo, em que pode acontecer uma oscilação significativa e negativa dos ativos escolhidos", detalha. Já no longo prazo, o risco se dilui. Se não houver um prazo definido, "a aplicação em renda variável é muito satisfatória. Mas é preciso buscar ajuda". DividendosOs dividendos acabam sendo um atrativo nos investimentos em ações. Isso porque investir em ações significa se tornar sócio das empresas que emitiram os papéis, comprando pequenos pedaços fracionados - o que dá direito também a parte dos lucros dessa companhia, os dividendos. É a chamada renda passiva, um dinheiro que cai na conta sem ser fruto de trabalho. Não adianta só olhar um dividend yield (quanto a empresa pagou de lucro em relação ao preço da ação). "Esse número, sozinho, não conta tudo. É preciso entender se aquele dividendo é sustentável, se a empresa tem lucro de verdade, se não está muito endividada ou distribuindo além do que pode. Por isso, mais do que buscar o 'maior pagador', o investidor deve buscar o pagador mais consistente. É preciso ter pé no chão e procurar bons ativos Investir em renda variável exige mais critério e menos impulso. Isso porque, quando a renda fixa está pagando bem, o investidor só entra na Bolsa se enxergar realmente valor, ou seja, se as empresas mostrarem resultados sólidos, lucro consistente e boa capacidade de gerar caixa. "A sensação é de que o mercado não está mais disposto a pagar caro por promessas futuras. Ele quer realidade no presente", diz Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos. Um investidor de renda variável de sucesso também precisa ser conservador. "Se o investidor tomar decisões embasadas de maneira fria, 'pé no chão', terá mais sucesso", diz Oliveira. Uma das formas de se conseguir isso é, principalmente, criando boas memórias. "Registrar sempre a compra de uma ação e o motivo. Desta forma será possível ter um histórico e deixar claros os resultados". Quem investe em renda variável precisa focar em qualidade. "As melhores oportunidades estão nas empresas que conseguem atravessar momentos difíceis sem comprometer seu caixa, que têm uma gestão confiável, pagam bons dividendos e de forma contínua e possuem modelos de negócio que funcionam mesmo em tempos de aperto", indica Lima. Setores como energia, bancos, seguradoras e algumas exportadoras continuam sendo boas alternativas, especialmente porque oferecem mais estabilidade e menos surpresas negativas. Agora é hora de ter disciplina, diversificar bem a carteira e não correr atrás de modinhas. Não é tempo de apostar tudo em setores muito sensíveis à economia ou em empresas sem fundamentos claros. Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos |