Inflação ainda preocupa 30 anos depois do Plano Real, ex-dirigentes da Americanas ficam livres de prisão. Também nesta edição: a promessa do lítio para a economia argentina e a startup que oferece substitutos verdes para os agrotóxicos.
Repasse este email para quem você quiser e avise que é possível assinar a newsletter FolhaMercado clicando aqui. Boa leitura!
Sim, mas… A disparada do dólar nas últimas semanas, que encostou nos R$ 5,60, e as incertezas sobre o futuro das contas públicas aumentaram o risco sobre os preços. As expectativas para a inflação saltaram de 3,72% em maio para 3,98% este ano.
Essas estimativas futuras entram no cálculo do Banco Central para definir os juros da economia. Na semana passada, a redução iniciada em 2023 foi interrompida.
↳ A taxa básica está em 10,5%. Ela é referência para todos os juros da economia.
Alerta… Em relatório divulgado na última semana, o Banco Central afirma que a probabilidade de a inflação ultrapassar o limite de 4,5% em 2024 subiu. Além do dólar, o BC cita a atividade econômica forte como um motivo.
Entenda. O dólar impacta a inflação por encarecer combustíveis (o Brasil importa 30% do que consome), matérias-primas para a indústria e estimular a exportação dos alimentos produzidos aqui, o que aumenta os preços desses produtos no país.
Onde colocar o dinheiro? É possível manter seu poder de compra com investimentos acessíveis que protegem da inflação. O primeiro passo é garantir uma reserva de emergência. Em média: gastos de seis meses somados.
Ela deve ser investida em produtos com indicadores que garantem a proteção: o CDI e o IPCA+.
O CDI paga praticamente o mesmo que a taxa Selic, que é maior que a inflação na maioria das vezes;
IPCA+ sempre garante a inflação mais algum retorno.
A ex-diretora da Americanas Anna Christina Saicali conseguiu que seu pedido de prisão preventiva fosse revogado como condição para que ela voltasse de Portugal ao Brasil. Já o ex-CEO Miguel Gutierrez seguirá solto na Espanha, com o compromisso de se apresentar à polícia a cada 15 dias.
Entenda: os dois ex-executivos da Americanas tiveram pedidos de prisão decretados pela Justiça na última semana e chegaram a entrar na lista de procurados da Interpol. Eles são apontados como 'cabeças' da fraude na companhia.
↳ Cerca de R$ 25 bilhões em dívidas eram mascaradas para melhorar a avaliação da empresa no mercado e favorecer a remuneração dos diretores.
↳ O rombo veio a público no começo de 2023, quando uma nova gestão assumiu.
Os crimes. Gutierrez e Anna Saicali são suspeitos de manipulação de mercado, uso de informação privilegiada e associação criminosa. Em caso de condenação, as penas chegam a 26 anos de reclusão.
Outros 12 ex-executivos da empresa foram alvo de busca e apreensão na operação da Polícia Federal de quinta-feira, que contou com 80 agentes nas ruas do Rio de Janeiro.
Como foi possível. Celso Vilardi, atual advogado da companhia, defende em entrevista à Folha que os crimes não eram de conhecimento do Conselho de Administração, nem dos acionistas.
Segundo ele, a diretoria enganou a todos. O que surpreende, na sua visão, é a longa duração da fraude, que envolvia inúmeras pessoas.
"É inacreditável que não houvesse uma pessoa que não traísse, mas não houve uma só denúncia. E surpreende o número de pessoas que participaram", diz.
Os bilionários. Os acionistas de referência Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Sicupira, que figuram entre os mais ricos do país, negam qualquer conhecimento. O advogado Celso Vilardi confirma. Os três estão fora do alvo da Polícia Federal até agora.
Relembre. A Americanas está em recuperação judicial desde que a fraude foi revelada. A empresa investiga a situação de suas finanças, com revisão dos dados. Com a revelação, o trio de acionistas precisou injetar R$ 12 bilhões na companhia.
↳ Desde 2023, a empresa demitiu, fechou lojas e propôs uma reestruturação das dívidas, que chegam a R$ 42 bilhões, principalmente com grandes bancos.
A Argentina deverá quase dobrar sua produção de lítio nos próximos meses. A informação da agência Bloomberg é de que o país vai colocar em operação quatro novos projetos para ampliar a extração. ↳ O minério é fundamental para as baterias elétricas, em alta no mundo devido à transição energética.
↳ Dados da consultoria Aleph Energy preveem que as exportações de lítio chegarão em US$ 8 bilhões ao ano até 2028.
Por que importa? O aumento da exportação poderia gerar um alívio no preço do dólar no país porque haveria um fluxo maior da moeda para a Argentina, melhorando as reservas do banco central. Um dólar custa 907 pesos no mercado oficial, 1.300 no paralelo.
Mais exportação também aumentaria as receitas do governo, enquanto o pacote de reformas do presidente Javier Milei aprovado no Congresso dá incentivos ao setor.
Crise sem fim. O país passa por uma recessão econômica em meio ao ajuste nas contas do governo. Aliados de Milei afirmam que a crise era prevista, e que é um preço a se pagar pelo controle da inflação.
O mundo não ajuda. O aumento na produção encontrará um mercado internacional que está bem abastecido. Desde 2023, o preço do lítio cai conforme a oferta aumenta e o os carros movidos apenas à bateria são colocados em xeque.
↳ Os projetos de extração tem parceiros estrangeiros: a francesa Eramet, a, sul-coreana Posco Holdings e as chinesas Zijin Mining, Ganfeng e Tsingshan Holding
Os maiores produtores de lítio. 🇦🇺 Austrália: 86 mil toneladas/ano 🇨🇱 Chile: 44 mil toneladas/ano 🇨🇳 China: 33 mil toneladas/ ano 🇦🇷 Argentina 9.600 toneladas/ano 🇧🇷 Brasil 4.900 toneladas/ano
A startup: fundada por egressos da Escola Superior de Agricultura da USP, a Gênica produz bioinsumos para o agronegócio em Piracicaba (SP). Os bioinsumos são produtos de origem biológica que substituem os químicos no controle de pragas e fertilização.
Quem investiu: a holding japonesa Mitsubishi Group, por meio da subsidiária Agrex do Brasil, e o fundo SP Ventures.
Em números: foram captados R$ 68 milhões como equity, em rodada Series C, para fortalecer o dinheiro em caixa durante a expansão, sem necessidade de tomar crédito.
Que problema resolve: oferece inseticidas, fertilizantes e produtos para o solo com menos impacto ambiental que os defensivos químicos.
Por que é destaque: a Gênica faturou R$ 130 milhões no ano passado e espera aumentar a receita em 70% este ano, para R$ 230 milhões. No Brasil, o mercado de biodefensivos cresce conforme a agenda ambiental ganha força.