| A atmosfera primitiva da Terra era irrespirável para nós. Para que pudéssemos habitar este planeta, foram necessários bilhões de anos de evolução para termos 21% de oxigênio (O₂) no ar que respiramos. Os níveis de CO₂ e a temperatura média da superfície da Terra também se estabilizaram em nosso benefício. Assim, promover guerras que queimam O₂, geram CO₂, transformam grandes áreas em solo minado com explosivos mortíferos, enfim, que massacram a vida em todas as suas formas, é um ato de insanidade sideral. Em 2022 a ONU publicou um estudo conservativo citando que, em média, as guerras são responsáveis por 5,5% das emissões de gases de efeito estufa (GEE). Mas, com a modernização das armas, bem como o uso crescente de mísseis e drones com explosivos, esta cifra deve ser maior atualmente. Com vários setores produtivos se esforçando para reduzir os GEE, faz sentido ainda haver guerras, cada vez mais destrutivas, em pleno aquecimento global? A partir da revolução industrial, o CO₂ na atmosfera aumentou de 280 partes por milhão (ppm) para 310 ppm ao final da 2ª Guerra Mundial. Uma taxa de crescimento cerca de 100 vezes mais rápida em relação aos 5.000 anos anteriores. Depois, acelerou: em 2020, já passava de 412 ppm e, em 11 de julho de 2025, atingiu 426,61 ppm, segundo o NOAA, agência americana para o clima. Dados recentes do observatório europeu Copernicus indicam que a temperatura média global em 2025 está 1,49°C acima dos níveis pré-industriais, muito próxima do limite de 1,5°C que a ciência alerta há meio século como crítico. Ainda estamos correndo contra o tempo numa questão para a qual a ciência já alertou, há cerca de meio século, e que se agrava dia após dia. Em setembro de 2025, o fim da 2ª Guerra Mundial, que matou mais de 50 milhões de pessoas, completará 80 anos. Será que deste trágico evento não aprendemos lições para evitarmos um 3º conflito devastador? As duas guerras mundiais foram motivadas por conflitos econômicos (indicativo de que as recentes taxações generalizadas no comércio mundial são inconsequentes e perigosas). Já há muitas décadas, no Brasil, nos Estados Unidos e no Reino Unido, convivem pessoas de várias nacionalidades. E, atualmente, as imigrações, os intercâmbios, as viagens a negócios e o turismo estão bastante generalizados em todo mundo. Assim, ao se bombardear um país, assassina-se cidadãos de inúmeras origens. As guerras também dizimam plantações, regiões arborizadas, espécies do reino animal e infraestruturas urbanas em geral. Em termos globais, cerca de 24% dos GEE vem do setor industrial, onde se destacam as produções de aço, cimento e produtos químicos. A indústria da guerra consome aço e substâncias químicas, e destrói uma imensa quantidade de edificações, que necessitam de cimento para serem reconstruídas. Lobos, onças, raposas, cobras, hienas e outros animais marcam seus territórios com a ferocidade que lhes é peculiar. E, neste contexto, cabe refletir sobre o que disse Martin Luther King Jr: "Aprendemos a voar como os pássaros e a nadar como os peixes, mas não aprendemos a conviver como irmãos". Trocar o diálogo pelas guerras e invasões nos manterá no mesmo tipo de relacionamento de muitas bestas selvagens. Até quando? Já houve guerras nas disputas por petróleo e conflitos relacionados à carência de água. Atualmente, ameaças de invasões já vêm ocorrendo em regiões ricas em minerais raros utilizados em baterias, veículos elétricos e componentes de alta tecnologia. E, sendo as energias renováveis fotovoltaica e eólica, ambas intermitentes, sem uma ampla produção de novas baterias elas sozinhas terão dificuldades de substituir plenamente os combustíveis fósseis, que geram eletricidade despachável, ou seja, 24 horas nos sete dias da semana. Para descarbonizar a produção de energia, novas fontes renováveis e 24/7 tem de ser utilizadas em adição às energias fotovoltaicas e eólicas. Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC, 2022), o setor energético é responsável por cerca de 34% da emissão global de GEE. Nas guerras modernas, se gasta muito petróleo e eletricidade nas tentativas de se conquistar os recursos energéticos, minerais e hídricos de outros países. E como estes recursos — distribuídos de forma não uniforme no planeta — estão cada vez mais escassos, será que há uma tecnologia para se produzir, simultaneamente, energia, renovável, limpa, 24/7 e água potável? E com isso reduzir os motivos para haver guerras? A resposta é sim! A tecnologia OTEC (Ocean Thermal Energy Conversion, em Inglês), que é viável em toda a região oceânica equatorial do planeta, de ~20⁰ S a ~20⁰ N, já produz eletricidade limpa, despachável e água dessalinizada há vários anos. No Havaí, na Índia, no Japão e na Malásia. (Com Flaminio Levy Neto, engenheiro mecânico e mestre em Engenharia pelo ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica). Ph.D. em engenharia, que lecionou no ITA e na UnB (Universidade de Brasília), e já publicou três livros. Foi consultor ad hoc da CAPES e do CNPq. Atualmente atua como ad hoc na FACEPE. |