| Cá entre nós, que ninguém nos ouça, mas tem algo de reconfortante em rir da desgraça alheia. Os alemães tem até uma palavra para isso, eles sempre tem, que é schadenfreude, o prazer que sentimos com o infortúnio de outrem. Não é belo, tampouco moral, mas mesmo que você não confesse, deve sentir isso uma vez ou outra. E a Netflix está lançando em ritmo industrial uma coleção de documentários que chafurdam na lama da infelicidade alheia. Sob o selo de Desastre Total (Trainwreck no original), os programas exploram casos extravagantes que podem ou não ter tido alguma repercussão na mídia. Se tornaram especialmente populares os episódios que narram histórias reais como o navio que teve problemas técnicos e encheu de fezes dos passageiros, a empresa de varejo que tinha um culto secreto e o convite de uma festa que viralizou a ponto de se tornar uma ameaça de segurança regional -acho até que o Facebook tirou aquela ferramenta de eventos por causa disso. Nessa última semana eu vi 'Balloon Boy': um pai de família gosta de criar traquitanas esquisitas. Fascinado pelo cosmos, decide montar um OVNI. Ele solta o balão no ar e um dos filhos teme que seu irmãozinho estivesse dentro dele. Toda a imprensa norte-americana acompanha num misto de curiosidade e canalhice a trajetória do objeto voador durante horas. Não vou dar spoilers de como a história termina, mas o desenrolar da trama envolve participação no 'Troca de Esposas', problemas com a imigração, acusações de trambique e até mesmo a luminosa presença de uma vidente. É tudo estapafúrdio demais, encantador demais. É tudo demais. O show de realidade do selo Desastre Total mostra como somos fascinados pela tragédia humana, e também o quanto somos fascinantes. É uma janela para o eterno fim da sociedade como conhecemos -ao ponto de que eu nem sei se um dia isso existiu de verdade. Avaliação no Chicômetro: nota 9 de 10. Desastre Total está disponível na Netflix, com novas produções anunciadas para breve. Voltamos a qualquer momento com novas informações. |