A inovação na Amazônia exige o fortalecimento de sociobioeconomias regenerativas que priorizem os povos amazônicos e a conservação ambiental. Mas como avançar nessa direção? A resposta passa por criar condições habilitadoras, adotar princípios sólidos e planejar ações de curto, médio e longo prazo. Com base no estudo "Uma Rede de Centros de Ciência, Tecnologia e Inovação para Catalisar Sociobioeconomias na Região Amazônica", publicado por cientistas afiliados ao Painel Científico para a Amazônia, abordo aqui como a Amazônia pode se tornar o palco para uma sociobioeconomia tropical inovadora e inclusiva. Condições habilitadoras para a inovaçãoÉ necessário identificar e conectar as capacidades existentes na Amazônia. A região conta com centros de inovação, como o Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) e o Parque de Ciência e Tecnologia Guamá, além de incubadoras e aceleradoras privadas. No entanto, essas iniciativas operam quase totalmente desconectadas e estão concentradas nas capitais. O desafio é integrá-las e criar novos centros no interior e em Unidades de Conservação de Uso Sustentável. É preciso estimular uma cultura empreendedora para transformar ideias em soluções práticas. A colaboração entre empreendedores, investidores, povos indígenas, comunidades locais e pesquisadores pode impulsionar negócios emergentes. Programas de inovação aberta podem estimular a criatividade e a inclusão, especialmente entre mulheres e jovens. Além disso, tecnologias avançadas, como biotecnologia, biomimética e inteligência artificial, serão cruciais para impulsionar soluções sustentáveis. O financiamento adequado, com investimentos públicos e privados, é determinante para viabilizar essa transformação. Princípios fundamentais para inovarA inovação deve priorizar a integridade e a conectividade ecológica, além da educação intercultural. Os povos indígenas e comunidades locais devem ser cocriadores das soluções, usando seus conhecimentos ancestrais e territoriais como um diferencial na criação de novidades e no aperfeiçoamento de processos. A transparência será essencial para construir confiança, autonomia e liderança local. É preciso estabelecer mecanismos de compartilhamento justo de benefícios, compensando pela proteção da biodiversidade. As parcerias públicas e privadas devem fortalecer capacidades técnicas e financeiras. Flexibilidade e aprendizado contínuo serão necessários para adaptar estruturas de governança e evitar burocracia excessiva. Planejamento em curto, médio e longo prazoPara catalisar a inovação, os centros de inovação precisam de estratégias claras de investimento, engajamento e governança. No curto prazo, entre dois e cinco anos, é fundamental estabelecer novos centros pilotos com participação local e fortalecer os centros existentes. Os investimentos iniciais devem ser moderados, na ordem de bilhões de dólares, com foco na formação de parcerias internacionais, especialmente entre os países amazônicos. No médio prazo, de cinco a sete anos, a colaboração entre governos, organizações internacionais e o setor privado precisa ser ampliada. A expansão deve alcançar áreas remotas e regiões transfronteiriças. Nessa etapa, serão necessários investimentos mais robustos e a criação de mecanismos financeiros que protejam a propriedade intelectual e garantam compensações justas às comunidades locais. No longo prazo, a partir de sete anos, a implementação de uma sociobioeconomia regenerativa se torna o objetivo principal. Isso exigirá grandes investimentos e mudanças estruturais profundas. Será essencial substituir práticas que degradam a biodiversidade, como a expansão de soja, dendê e gado, por alternativas regenerativas e sustentáveis, incluindo restauração florestal em grande escala, sistemas agroflorestais e bioindustrialização. Estruturas de governança eficazes e modelos financeiros inovadores serão indispensáveis para sustentar essa transformação. O sucesso da sociobioeconomia amazônica dependerá da escalabilidade das ações inovadoras e regenerativas, da governança eficiente e do financiamento adequado. Com esforços coordenados e inteligentes, será possível implementar a sociobioeconomia de florestas em pé e rios fluindo necessária para um futuro próspero para a Amazônia e suas populações. |