Segunda-feira, 24/02/2025 | | | |  | Ana Clara Silva Pinto, Head de Pessoas e Cultura na Dengo Chocolates | Divulgação |
| Diversidade é um dos ingredientes principais dos chocolates da Dengo | |  | Mariana Sgarioni |
| Uma equipe realmente diversa é ouro nas mãos de qualquer organização. Mas ela não acontece por acaso. Nem adianta vir dizer que diversidade é um valor orgânico da sua empresa e que está lá naturalmente. Não está. É preciso intencionalidade de quem contrata, ou seja, ações planejadas com métodos e regras que visem um time com mais mulheres, pessoas negras, com deficiência e LGBTQIA+. "Viemos de uma construção social histórica que faz com que haja uma inferiorização de determinados grupos. Nosso cérebro não percebe, mas responde automaticamente assim, inclusive na admissão de colaboradores. Por isso, uma empresa que preza pela diversidade precisa colocar intenção nesta mudança", diz Ana Clara Silva Pinto, Head de Pessoas e Cultura da Dengo Chocolates. Um em cada três líderes da companhia é uma pessoa negra - sendo que mais de 55% de todo o quadro é composto por mulheres, incluindo 6 das 9 posições executivas. "A gente lida com chocolate, algo muito especial. E este cuidado é muito feminino", diz a executiva. Fundada em 2017, a Dengo Chocolates conta hoje com cerca de 500 colaboradores e concentra 100% de sua produção no sul da Bahia e na Amazônia. Todo o cacau utilizado vem de um sistema agroflorestal chamado Cabruca, cultivo que preserva a floresta em pé, pois utiliza apenas os frutos vindos da sombra das árvores. Com o propósito de levar renda digna para seus 200 produtores, a empresa afirma que, na safra de 2023, o valor pago a estas famílias atingiu 107% acima do preço médio de mercado. E, no ano passado, a Dengo lançou a primeira trufa do mundo que vem em uma embalagem sem plástico nenhum em sua composição. Na entrevista a seguir, Ana Clara fala um pouco mais sobre a cultura diversa da Dengo, uma empresa que já nasceu nos braços do ESG - e que tem uma maneira muito especial de enxergar seu negócio, que vai desde a semente de cacau até a barra de chocolate que chega na casa do consumidor. *** Ecoa: A Dengo é uma marca que chama a atenção não apenas pelo seu impacto social, mas também pela diversidade de sua equipe. Como você vê este momento em que algumas empresas estão acabando com suas metas de diversidade e inclusão? Ana Clara Silva Pinto: A gente está vivendo um momento bem triste. Existe uma sequência de movimentos que vão na direção contrária do que a gente acredita ser a construção de uma sociedade melhor, mais rica e menos desigual. Hoje estão falando até da questão da insegurança jurídica nos Estados Unidos. No fim, tudo vira um motivo para não investir no que é certo. E o que eu percebo? Esta é a hora de ver de fato quais são as companhias que estavam surfando da onda ESG, falando de diversidade hype, e quais são aquelas que, de fato, têm um propósito definido. A diversidade deve continuar existindo porque, além de todo o resto, ela é boa para o negócio. Ecoa: A diversidade é algo natural na Dengo? Ana Clara Silva Pinto: Na Dengo, o ESG como um todo é uma forma de estar no mundo. Não é uma pauta. Porém, quando a gente fala de diversidade, não existe nenhuma equipe corporativa diversa que tenha se formado espontaneamente. É preciso trabalho e intencionalidade para que ela tenha todos os grupos representados. Se a gente olhar os quatro principais marcadores (mulheres, pessoas negras, pessoas com deficiência e LGBTQIA+) existe uma construção histórica que faz com que nosso cérebro afaste essas pessoas automaticamente. Isso acontece também com o RH, são vieses do ser humano. São mais de três séculos de escravidão, por exemplo, que colocam as pessoas negras como se tivessem menos valor, como se fossem cidadãos de segunda categoria. Então o RH tem um papel fundamental de estabelecer práticas na organização que garantam que esses comportamentos automáticos não sejam reproduzidos. Ecoa: Que tipo de práticas? Ana Clara Silva Pinto: Um exemplo. Se eu, aleatoriamente, pedir para minha Inteligência Artificial trazer os 15 candidatos mais aderentes a determinada vaga, sem especificar mais nada, ela vai me trazer 15 homens brancos heterossexuais e sem deficiência. Eu preciso dizer: "Quero que você avalie pessoas negras". Isso é intencionalidade, é querer fazer diferente. Na Dengo, isso se faz com regras, de maneira sistemática. Ecoa: Você é uma mulher negra que ocupa um cargo de liderança de pessoas e de cultura. Este tipo de representatividade também conta? Ana Clara Silva Pinto: Sim, claro. O fato de você ter pessoas diversas em cadeiras executivas traz uma mensagem muito positiva para quem está olhando do lado de fora e que faz parte de um destes grupos que falamos. Esta pessoa pensa: "Aqui nesta empresa posso sonhar porque tenho espaço". Isso muda o jogo. A gente não vai sonhar com aquilo que não acha possível, certo? Você precisa ter ali a materialização dos seus sonhos. E uma mulher negra neste cargo ajuda nisso. Porém, de novo: se não houver intencionalidade nos métodos de contratação, não vai adiantar nada. Ecoa: Qual o papel das mulheres na Dengo? Ana Clara Silva Pinto: Na Dengo, um em cada três líderes é uma pessoa negra. E as mulheres ocupam mais da metade de todo o quadro de colaboradores. São mulheres porque, em primeiro lugar, a gente lida com chocolate, e o nosso chocolate é diferente, tem um sabor, um cuidado, uma apresentação, uma forma. Preciso trazer quem consegue entregar isso. E esta é uma característica que encontro mais nas mulheres. Porém há diferenciais para o negócio que não estão ligados a este marcador específico. Por exemplo: falamos diretamente com os produtores de cacau, pessoas humildes que muitas vezes nem têm conta bancária. As mulheres fazem melhor este contato e esta negociação. E não é porque são mulheres. É por sua trajetória, seu background, suas habilidades, pelo que elas trazem com elas. É importante deixar claro que estas habilidades são uma vantagem competitiva. |
| | | Publicidade |  | |  | Mutirão voluntário para plantio de floresta de bolso na avenida Hélio Pelegrino, próximo ao cruzamento da avenida Santo Amaro, em São Paulo | Cardim Arquitetura Paisagística |
| Florestas de bolso: "ilhas verdes" que ajudam a resfriar as cidades | | Um mantra que poderia ficar estampado na porta da sua geladeira: floresta em pé é bom sempre. Não importa o tamanho nem o lugar. Podem ser milhares de hectares de árvores centenárias cravadas no coração da Amazônia, ou apenas 15 metros de pequenas mudas na esquina de casa que, em breve, crescerão e se tornarão uma ilha de resfriamento no caos de calor urbano. Toda floresta tem sua importância. Para quem mora nas cidades e que vivencia um clima baseado em poluição e aquecimento crescente, pequenos oásis verdes são um alívio. O botânico Ricardo Cardim cunhou o termo "Florestas de Bolso" para uma técnica natural de restauração ecológica da Mata Atlântica que ele desenvolve desde 2011. Cardim vem usando sua expertise para reflorestar pequenas áreas urbanas com espécies nativas e o resultado são o resfriamento e a umidificação do ar - pois a vegetação absorve (muita) água dos lençois freáticos, lançando-a para a atmosfera, o que traz uma sensação de frescor. E as micro florestas trazem outros benefícios no pacote: diminuem o barulho, a poeira, reciclam gases tóxicos, abrigam aves que combaterão pragas urbanas, como mosquitos transmissores de doenças, diminuem enchentes, uma vez que a copa das árvores funciona como uma esponja, que segura a água da chuva e, lentamente, a encaminha para o lençol. Como diz Cardim, é uma máquina de saúde para as cidades e seus moradores. "A Floresta de Bolso é uma das ferramentas que a gente tem para atuar em dois tipos tipos de mudanças climáticas: a global e a local, esta última causada pela péssima urbanização das cidades brasileiras, que hoje mal conseguem tirar o cimento de baixo de suas árvores. Via de regra a natureza nunca foi importante na construção das cidades. Por isso que a Floresta de Bolso é quase uma instalação artística, eu brinco, porque ela gera uma provocação tanto nas pessoas como no poder público. Afinal, aprendemos, desde sempre, que a natureza nativa não poderia conviver com as cidades. Que ela pertence ao mundo das feras, das doenças, das cobras, dos maus espíritos. Isso vem desde a época dos portugueses", comenta Cardim. A primeira Floresta de Bolso pública plantada em um mutirão voluntário foi na Vila Olímpia, bairro da capital paulista, em 2016, em uma praça onde ficava a margem do córrego Uberabinha, hoje canalizado. Hoje são 18 florestas no total, espalhadas entre São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Entre estas áreas estão os 5 mil metros do Parque Olímpico do Rio de Janeiro, que tinha se tornado um depósito de lixo e entulho, e hoje foi reflorestado. As espécies plantadas são nativas e minuciosamente estudadas por Cardim - incluindo as distâncias e a convivência entre elas: uma árvore a cada metro quadrado, com uma composição de espécies variando de acordo com a ciência de restauração da Mata Atlântica. "O Brasil detém a maior biodiversidade do mundo e a maior quantidade de espécies nativas do planeta. Mesmo assim, 90% da vegetação plantada nas ocupações humanas é de origem estrangeira: nossos jardins vêm de fora. Queremos trazer esta natureza brasileira de volta". Segundo o botânico, em um ano, as árvores das Florestas de Bolso alcançam três metros. Em dois anos seis, e, em três anos, oito - todas plantadas em lugares inóspitos e sem a necessidade de manutenção ou irrigação. "A natureza é assim: se a gente abandona uma área que tem floresta em volta, com sementes, ela volta a crescer sozinha", explica. Cardim completa chamando a atenção para a necessidade urgente do poder público abraçar soluções como esta, uma vez que as cidades estão em estado de emergência - e não existe saída mágica. "Se as cidades brasileiras tivessem a Floresta de Bolso como política pública, embasada em ciência, de forma pulverizada em suas malhas urbanas, certamente seriam muito mais resilientes às mudanças climáticas e eventos extremos, além de proporcionar mais saúde física e psicológica à população". |
| | |  | Caravela, estrutura que captura carbono e absorve poluentes das águas, em ação na Marina da Glória, no Rio de Janeiro | Divulgação Infinito Mare |
| Estrutura flutuante usa algas nativas para combater poluição das águas | | Quem olhar com atenção para as águas da Marina da Glória, um dos cartões postais do Rio de Janeiro, vai se deparar com uma estrutura azul misteriosa boiando, que lembra um barco à vela, e que fica girando em torno do próprio eixo. Parece uma instalação artística, mas, na verdade, é um sistema altamente tecnológico - e bonito - que serve para capturar carbono e absorver poluentes, como metais pesados. Chamada de Caravela, a estrutura foi criada e desenvolvida em 2018 pela empresa brasileira Infinito Mare e trata-se de uma Solução Baseada na Natureza (SbN) para monitorar e despoluir rios, baías, lagos, represas e outros corpos hídricos de água doce e salgada. Funciona da seguinte forma: o fundo da estrutura é composto por uma película que, em contato com a água, favorece o crescimento de algas nativas. Estas algas funcionam como biorreatores que monitoram e retiram da água matéria orgânica, uma espécie de ímã que captura poluentes. Depois de já crescidas, estas algas são retiradas das Caravelas e encaminhadas para análise em laboratório, fazendo com que haja um controle das substâncias presentes na água. "A tecnologia é uma espécie de uma tela de mosquito que, ao ser colocada na água, gera uma reação e uma película aparece ali dentro. A partir daí, algas que são nativas naquela água encontram na Caravela um local para crescer, como uma estufa. Enquanto estas algas crescem, elas se alimentam da poluição e fazem que esta poluição tenha aderência à sua superfície", explica Bruno Libardoni, oceanógrafo, fundador e CEO da Infinito Mare. Segundo ele, as algas levam cerca de duas semanas para atingirem um tamanho bom de crescimento. O material recolhido é pesado e serve para análises de elementos encontrados como metais pesados, pesticidas, herbicidas, hormônios, entre outros. "Já chegamos a detectar 10% de metal recolhido na biomassa, ou seja: se a gente tem 50 quilos de algas ali, retiramos 5 quilos de metal da água", relata Libardoni. O objetivo da Infinito Mare é escalar esta produção das algas e encaminhá-las para a produção de biocombustíveis ou bioplástico, por exemplo. Ao colocar uma Caravela na água, a empresa faz também um trabalho educacional, levando estudantes para orientar sobre o meio ambiente, além de empregar trabalhadores locais. O projeto foi acelerado pela Prefeitura de São Paulo no ano passado, que também premiou a empresa por sua criação. O design poético da estrutura recebeu em 2018 o Top Innovation Award, em Guangzhou, na China, e a Infinito Mare passou a fazer parte do Conselho Mundial dos Oceanos. Por enquanto, a Caravela está flutuando na Marina da Gloria, mas deve chegar na Lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte, ainda neste semestre. "Todo mundo olha muito para o verde, mas pouca gente vê o azul das águas que alimentam este verde. No Brasil, temos 83 mil quilômetros de rios poluídos: a gente não tem como sustentar as florestas se os rios estiverem assim", alerta. |
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| | Elas no Conselho: Segredos de quem está nesta jornada Autoras: Guadalupe Franzosi e Giuliana Preziosi Editora: Literare Books Livro para todos que desejam compreender os novos rumos dos conselhos e a importância da diversidade em suas composições. A obra mergulha na trajetória de 25 mulheres que conquistaram espaço em conselhos consultivos, administrativos, familiares e fiscais, compartilhando aprendizados, desafios e segredos dessa jornada. |
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