Você com certeza viu que Fernanda Torres ganhou o Globo de Ouro de melhor atriz com o papel de Eunice Paiva em "Ainda Estou Aqui". Escrevo sobre como o prêmio e o filme ajudam a dar visibilidade ao papel das mulheres na construção da memória e da justiça das ditaduras.
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Bárbara Blum
Escreve sobre gênero no Todas e apresenta o podcast Modo de Viver. Foi editora-assistente da Ilustrada
Guardiãs da memória
Quando eu estava na faculdade de Relações Internacionais, há dez anos, me interessava muito pelas ditaduras na América Latina. Na PUC-SP, onde estudei, falavamos muito sobre os alunos desaparecidos e sobre quando a polícia militar invadiu o campus da universidade, em 1977.
Tudo isso continuava muito vivo –não só nas paredes baleadas do TUCA (Teatro da Universidade Católica de São Paulo), mas em outros lugares que visitei ao longo da minha formação universitária e como jornalista. A Plaza de Mayo, em Buenos Aires, por exemplo. O local foi ponto de encontro das mulheres que protestaram por décadas com fraldas de pano amarradas na cabeça questionando onde estavam seus filhos, desaparecidos, e onde estariam seus netos, sequestrados pela ditadura argentina.
E ficou mais vivo ainda com a vitória da Fernanda Torres no Globo de Ouro, prêmio inédito para o Brasil. O prêmio vem pelo papel de Eunice Paiva, viúva de Rubens Paiva, um dos desaparecidos da ditadura militar brasileira, no filme "Ainda Estou Aqui", baseado no livro homônimo escrito por um dos filhos do casal, Marcelo Rubens Paiva.
Além de a vitória de Torres ter suscitado uma série de discussões importantes e felizes para as mulheres –como essa ser uma safra de "lobas" em Hollywood, com menos jovenzinhas entre as indicadas a grandes prêmios e mais espaço para as veteranas ou quais são as chances da atraiz brasileira levar o Oscar–, levanta outro assunto pertinente: o papel das mulheres na construção da memória e da justiça das ditaduras.
Esta semana terminei também a excelente série "Não Diga Nada", disponível no Disney+, sobre o IRA, o Exército Republicano Irlandês. Também baseada num livro, do jornalista americano da New Yorker, Patrick Radden Keefe, ela investiga a história dos bombardeios e assassinatos que o grupo conduziu em nome da libertação da Irlanda do Norte do domínio inglês. Não vou dar spoilers, mas, mais uma vez, mulheres entram em cena para buscar justiça e reparação.
Eunice Paiva em 1996 com a certidão de óbito do marido, Rubens Paiva, desaparecido desde 1971 - Eduardo Knapp/Folhapress
Numa nota mais leve, para começar bem o ano, quero recomendar uma entrevista divertidíssima da repórter especial Teté Ribeiro com ninguém menos do que a médica que descobriu o uso cosmético da toxina botulínica. Bilionária, você deve estar pensando. Talvez estivesse, mesmo. Mas Jean Carruthers não conseguiu a patente de sua descoberta.
Não dá para perder também mais um Folha Testa que as meninas do núcleo Todas prepararam para a virada do ano, quando os cabelos ressecados de sol, mar e piscina pedem socorro: provamos 16 óleos capilares para todos os bolsos e em vários tipos de cabelos para você ter um guia de qual vai funcionar melhor com suas madeixas.
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O texto foi publicado há alguns meses, mas virou debate entre meus amigos só essa semana: qual é o papel dos homens na queda das taxas de fecundidade? Falamos muito sobre a entrada das mulheres no mercado de trabalho, mudanças no ideal de feminilidade que envolve a maternidade e a queda da fertilidade feminina, mas e os homens? Onde eles estão nessa conversa?