Atentado a Trump, crise democrata, vice republicano...não faltam assuntos para a edição. Organizei um pouco a bagunça para você entender como está a eleição dos EUA.
Fernanda Perrin
Correspondente nos EUA, foi editora-adjunta de Mercado. É mestre em ciência política pela USP.
TUDO EM TODO LUGAR AO MESMO TEMPO
Essa newsletter seria sobre o que muda no mundo democrata após a coletiva de Joe Biden na quinta (aquela em que ele chamou a Kamala Harris de Donald Trump, lembra? É, isso foi há apenas quatro dias).
Tudo isso para dizer que a eleição que vinha sendo tratada como singular, ficou ainda mais complexa. E que essa correspondente está trabalhando muito (por isso a demora no envio hoje; peço desculpas).
Assim, em vez de tratar de cada um desses eventos, vamos tentar entender juntos como o conjunto da obra afeta a corrida daqui em diante.
Donald Trump é retirado de comício após tentativa de assassinato - Anna Moneymaker/Getty Images via AFP
O QUE É POSSÍVEL DIZER?
1. O debate sobre a substituição de Biden, por enquanto, acabou. Nenhum outro democrata veio a público pedir sua saída da corrida desde sábado. A campanha do presidente, por sua vez, teve que pisar no freio por um tempo nos ataques ao adversário.
2. Trump está projetando uma imagem de moderação, ao reagir ao ataque apelando por união nacional. Ele afirmou que está reescrevendo o aguardado discurso que fará na quinta-feira, quando aceita oficialmente a nomeação do partido, para enfatizar essa mensagem de unidade, em vez de fazer ataques a Biden.
3. Enquanto Trump fala em união, republicanos estão acusando democratas de serem uma ameaça à democracia. Uma virada de jogo contra uma das principais estratégias de ataque da campanha de Biden.
4. O arquivamento do processo no qual o republicano foi acusado de posse ilegal de documentos sigilosos por uma juíza indicada por Trump anula qualquer possibilidade de ele ir a julgamento antes da eleição, mesmo que a procuradoria vença o recurso que deve apresentar contra a decisão, e impulsiona mais críticas de politização da Justiça.
5. O ataque a Trump deve levar a um aumento da participação de eleitores simpáticos ao empresário, mas desengajados politicamente. As chances de o ex-presidente ser eleito subiram, opinam analistas.
Em resumo, Trump foi vítima de uma tentativa de assassinato, e ainda assim está tendo uma semana melhor que Biden.
Fonte: Real Clear Polling, que agrega os resultados das principais pesquisas eleitorais dos EUA
O QUE PRECISAMOS SABER?
1. Qual foi a motivação de Thomas Crooks para tentar matar o ex-presidente e o que levou à falha do Serviço Secreto no sábado em protegê-lo. Qualquer associação a democratas ou ao governo pode ter um impacto importante na corrida.
2. Como eleitores independentes vão reagir ao ataque e ao rebranding moderado de Trump. Aguarde especialmente pesquisas de intenção de voto pós-convenção.
3. Como a campanha de Biden vai recalibrar sua estratégia pós-ataque.
4. Se os pedidos de união feitos tanto por Biden e Trump vão acalmar os ânimos, ou se teremos novos episódios de violência até a eleição e, especialmente, após ela, a depender da reação do lado derrotado. Spoiler: analistas estão pessimistas.
Amanhã, embarco para Milwaukee, no Wisconsin, onde acontece a convenção republicana. Acompanhe a cobertura na Folha.
QUANDO O CHEFE ESCORREGA
Um vídeo compartilhado por Jeremy Art, da Cspan, espécie de “TV Congresso” americana, mostra a reação do secretário de Estado, Antony Blinken, do secretário de Defesa, Lloyd Austin, e do assessor de segurança nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, no momento em que Biden chama Kamala Harris de “vice-presidente Trump”.
É mais ou menos uma torcida comportada reagindo a um gol contra. É também ilustrativo da situação em que se encontra a política americana. Como disse alguém no X (ex-Twitter), o homem mais poderoso do mundo está dando uma entrevista, e mais do que o que ele está falando, o que importa é se ele consegue formular uma frase com começo, meio e fim.
Minutos antes de trocar Kamala por Trump, Biden ainda deu outra escorregada.
De todas as gafes que o presidente poderia cometer, ele trocou o nome do ucraniano Volodimir Zelenski pelo do russo Vladimir Putin ao apresentar o aliado no fim da cúpula da Otan, em Washington.
Zelenski riu.
Zelenski ri após Biden trocar nomes e chamá-lo de Putin, segundos antes - Yves Herman/Reuters